Quem
não quer viver bem a vida? Quem não deseja se relacionar com a existência de
uma maneira que só possa ser traduzida como feliz? Para se realizar esse
desiderato é indispensável que se tenha em conta, que se estabeleça como
vetores diretivos a vontade de Deus. Ou seja, não há verdadeira felicidade a
revelia da presença e querer divino, visto ser ele a fonte genuína da
felicidade humana. Mas como vivermos a vida que Deus sonhou, desejou após a
fatídica experiência da queda, levando em consideração que ela desarmonizou e
comprometeu os fundamentos essências para a realização desse tão caro projeto?
Bem, Paulo ao meu sentir nessa porção de sua carta aos gálatas
responde com louvor as indagações tão custosas que temos feito acima, ao bem da
verdade é preciso consignar que o apóstolo da cruz trata tal tema
consequencialmente sem nem uma pretensão de aprofundar a matéria de fundo. O
coração e cabeça da mensagem é sem dúvida a justiça de Deus que apreendida pela
fé, sem obras ou méritos humanos supera as desastrosas imposições da maldição do
pecado. Porém, ao desenvolver tal exposição Paulo nos apresenta, mesmo sem tal
intenção prima faciens, os sinalizadores para se viver uma vida que glorifique
a Deus em nossa caminhada existencial. Quais são estes princípios de um bem
viver segundo as exigências e determinações do Eterno?
1.
Reconheça a real matriz do problema de
sua existência (vs – 10,12)
Segundo Paulo é vital identificar qual de fato é o cerne dos
problemas humanos. Para muitos a crise que se abate de maneira densa sobre os indivíduos
tem um vetor social, psicológico ou
ainda econômico. De maneira que sua solução se dá por meios dessas categorias.
Entretanto,
para o apóstolo dos gentios o núcleo do drama humano supera essas linhas fronteiriças
estabelecidas pela horizontalidade existencial encontrando sua resposta correta
na verticalidade da existência mediante o confronto do todo de sua vida com os
critérios e padrões de Deus, isto é, sua lei moral (Êx 20.1-17) interpretada e
aplicada por Cristo (Mt 5.21-48).
De modo que, nossos problemas são resultados da ação
retaliatória de Deus contra nossas escolhas suicidas, ou seja, aquelas que se
chocam violentamente contra a sua santidade. Isso se dá na medida em que
praticamos um estelionato existencial ao propormos um caminho de vida a partir
de bases meritórias, mas que incoerentemente não conseguimos verdadeiramente trilhá-lo
como graficamente expõe Paulo ao denunciar sem reservas a hipocrisia nojenta
dos judeus na sua prática de condenar os pecados na vida dos gentios que
ocultamente realizavam: 21 tu, pois, que
ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve
furtar, furtas? 22 Dizes que
não se deve cometer adultério e o cometes? Abominas os ídolos e lhes roubas os
templos? 23 Tu, que te
glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? 24 Pois, como está escrito, o nome
de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa. (Rm
2.21-24). Essas retaliações são designadas de maldições (ta’alah, qelelah, katáren). Moises deixa mais que claro essa correspondência
entre as desventuras humanas e a execução penal, o jus puniendi divino,
primeiro em Genesis 3 como consequência do pecado primeiro (Gn 3.17) e em
Deuteronômio 28. 14-15 quando um catálogo de maldições é apresentado como consequência
da violação do pacto: 14 Não te
desviarás de todas as palavras que hoje te ordeno, nem para a direita nem para
a esquerda, seguindo outros deuses, para os servires. 15 Será, porém, que, se não deres
ouvidos à voz do SENHOR, teu Deus, não cuidando em cumprir todos os seus
mandamentos e os seus estatutos que, hoje, te ordeno, então, virão todas estas
maldições sobre ti e te alcançarão. Para o teólogo Warren
Wiersben é absolutamente contraditório e insensato perde de vista a mão de Deus
em meio à experimentação de adversidades e catástrofes, assim se expressa ele: “Quando viesse às calamidades, Deus queria que o
povo reconhecesse a mão do senhor e que não pensasse que se tratava de uma
serie de coincidências”.
De
fato, não são coincidências, acaso, mas com certeza variações do juízo divino
sobre nossos desvios de rota, de prioridades, de relacionamentos, enfim.
Desta forma a felicidade e
benção é a inversão da polaridade desse processo no sentido em que
reconhecemos, identificamos a raiz de nossos problemas como além da sua
apresentação objetiva e histórica, ou seja, o problema tópico ( a infidelidade
conjugal, a injustiça com o outro, a violência conjugal gratuita e dolosa, a
avareza, o destempero emocional...) e aprofundamos a matéria para os motivadores
e determinantes formativos desses problemas que se encontram no desvão ético do
coração em relação ao padrão existencial fornecido pela vontade revelada de
Deus (Rm 1.18-32).
2.
Experimente a presença de Deus por meio
da fé (vs – 5-6)
Logo após o reconhecimento de que nossos problemas estão além
de sua realidade presencial se relacionando diretamente com o padrão moral e
éticoespiritual imposto por Deus é necessários que quem quer viver uma vida que
lhe agrade busque com sofreguidão sua bendita e benfazeja presença. Para o
apóstolo Paulo a vida que agrada e realiza os sonhos criativos de Deus é aquela
que está cheia do desejo de plenitude dele.
Como essa presença pode ser sentida e vivenciada pelo homem?
Na maneira de enxerga a questão Paulo propõe o caminho da fé em Cristo como o
messias esperado. Tal descrição encontra paralelos admiráveis na história do
patriarca Abraão que ao enviar seu servo para achar a mulher ideal para seu filho
avisa ao temeroso servo que o Deus que ele andava sempre(־הִתְהַלַּ֣כְתִּי verbo
hithpael perfeito) na presença (לְפָנָ֗יו ) iria conduzi-lo a bom termo e completo
sucesso: 40 Ele
me disse: O SENHOR, em cuja presença eu ando, enviará contigo o seu Anjo e
levará a bom termo a tua jornada, para que, da minha família e da casa de meu
pai, tomes esposa para meu filho. (Gn 24.40). William Barclay assina-la que a
única via de acesso à bem-aventurada presença de Deus é a fé que resulte em
completa rendição: “O
único caminho para uma correta relação com Deus e, portanto, o único caminho
para conseguir a paz é o da fé, o da aceitação, o da entrega”. É
essa fé (pistos, pistis) que atrai
como um poderoso magneto a benção existencial. Como pedagogicamente destacou Lutero
essa benção nunca poderia ser fruto das obras ou mérito, mas um influxo da fé
salvadora instalada na interioridade por meio da regeneração: “A benção de Deus é dada sem ter em vista a lei
e as obras” (Martinho Lutero).
No meu ver essa é a síntese perfeita do que o Novo Testamento
apresenta como vida espiritualmente amadurecida, pois, a maturidade não está
vinculada aos aspectos meramente cognitivos da crença, mas, sobretudo, nos
processo do viver com sabedoria a existência como fruto da internalização da
palavra de Deus pela instrumentalidade do Espírito Santo (Ruach L’Qadosh), assim afirmou Paul Tripp: “Maturidade espiritual não é meramente o que você faz com sua mente, mas
tem haver como você vive a sua vida”. É como vivemos que
sinaliza o quanto da presença de Deus possuímos. É nosso comportamento, em
certa medida, que vai julgar a validade e eficácia ou não da nossa fé.
3. Experimente os efeitos do
resgate realizados por Jesus por meio de uma entrega inteira de si (vs – 13-14)
A busca pela presença de Deus redireciona o pecador para a experiência
de fé com os desdobramentos concretos do resgate produzido pela expiação, sacrifício
de Jesus na redenção. Paulo sublinha tal verdade quando afirma que na cruz
Jesus estava realizando um resgate dos efeitos e consequências da quebra da lei
moral de Deus inscrita em nossa alma: 14 Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por
natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si
mesmos. 15 Estes mostram a
norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a
consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, (Rm
2.14-15).
Dai que apenas a partir dessa intervenção substituta e
sacrificial levada a efeito por Jesus que a benção da aliança, (que Paulo por
meio de uma metonímia denomina – benção de Abraão numa clara alusão ao pacto
firmado com o patriarca) tão vital para nossa felicidade existencial pode
chegar até nós, visto que nossa pecaminosidade faz um verdadeiro bloqueio e
obstrução à degustação dessa benção, colho as achegas do reformador Martinho
Lutero: “Ele [Cristo] acolheu a nós pecadores miseráveis
e perdidos, tomou sobre si e carregou todos os nossos males que deveriam
oprimir e atormentar-nos eternamente”.
Pedro lança densos feixes de compreensão da natureza mais perceptível
desse resgate em sua carta: 18 sabendo que
não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados
do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como
de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, (1 Pe 1.18-19). Segundo o apóstolo o resgate
que Cristo possibilitou no Calvário é dos efeitos espirituais de nossos
comportamentos, muitos deles resultados dos valores absorvidos pela cultura familiar
e porque não dizer social e étnica. Sem tal resgate definitivo (ἐξηγόρασεν) o
projeto de viver uma vida que alegre a Deus não passa de devaneio e engodo.
Qual a conclusão que chegamos nesse ponto de nossa caminhada
literária? Que não há como se viver uma vida que glorifique a Deus sem
relacionamento pessoal e salvador com Jesus. Sinceramente é impossível ser
feliz no sentido mais amplo, eterno e profundo que a felicidade possa
significar sem reconhecimento da origem espiritual de nossos dilemas, culpas e
erros, não se equivoquem aqui, não há como ser feliz sem estarmos no centro
gravitacional da vontade de Deus através dum salto de fé nos braços do
mediador, Jesus de Nazaré. Pensem Nisto!!!
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