Penso que somos uma geração que até o momento não provamos do
poder real do Evangelho da graça. Não me compreendam mal, não estou dizendo que
não temos um conhecimento intelectual e teológico das doutrinas da graça, não estou também
afirmando que não temos milagres, conversões, nem tão pouco estou sugerindo que
não temos um grande império religioso com nosso templos abarrotados de fieis.
Fazer uma declaração assim seria contrario senso, o que estou
tentando delinear é que até então somos uma geração espiritualmente pobre de
uma verdadeira experiência com o poder da graça do Deus trino como tornada
disponível no Evangelho de Cristo (Tt 2.11-13).
Você deve estar indagando por que ele diz isso? E tem toda
razão de assim fazê-lo visto que essa é uma declaração ousada e comprometedora
pelo seu conteúdo. Então por que estou fazendo isso? Bem minha afirmação não é
arbitrária, mas resultado de uma reflexão madura e profunda do próprio
Evangelho como quando confrontado com a prática e a vivencia experimental da
igreja contemporânea.
Isto porque apesar da aparente prosperidade material, do
suposto monopólio do poder divino nos cultos e reuniões e da tão propalada
experiência com o sobrenatural (numa patológica
síndrome de Laodiceia – Ap 3.14-22). Somos uma geração que não conhece a graça de Deus, pelo menos
do jeito que a revelação nos apresenta.
- Como assim? Por que insiste nisto!
- Explico, observou que somos uma geração que não sabe perdoar?
Uma geração tão cheia
de direitos que se acha no direito de impor limites ao exercício do perdão (Lc
17.3-5). Notou como somos letárgicos para socorrer o caído, restaurar o
penitente ou arrependido. Que falamos muito sobre graça, desde que não seja
para realmente ministrá-la, só uma questão de ensaio teórico, teológico...
Na verdade esse exercício incondicional do perdão deveria ser
os passos naturais, o movimento corriqueiro do amor e do fruto do Espírito em
nosso encontros de mutualidade apontando para apropriação lidima da graça do
Evangelho pela qual nossa autentica vocação e eletividade se exteriorizariam.
Porém, o que temos na espécie? Perseguições, indiferença, superioridade,
exclusões indiscriminadas, pedidos de comunhão rejeitados, linchamento moral,
enfim, tudo o que nega peremptoriamente a graça do Evangelho.
O exercício bíblico do perdão, a manifestação eclesiástica da
restauração seria a exibição da vida crucificada, única que pode ser vivida por
um discípulo de Jesus sob pena de fraude espiritual, sobre essa vida destacou
A.W.Tozer que a cruz que os salva também os mata, e qualquer coisa diferente
disso é uma pseudo fé, e não é, absolutamente, fé verdadeira (Tozer –
2013).
O problema está no fato de que essa graça é o fundamento do
perdão incondicional e abrangente para nossos pecados realizados por Deus no
Evangelho. E o que esse Deus Pai perdoador requer de nós? Que apenas
reproduzamos o padrão (Mt 18.22-34). Reproduzimos? Bem sem mais perguntas...
Tem outra faceta dessa ausência de apropriação da graça do
Evangelho, e se encontra na nossa
dificuldade real com aquelas realidades que o Evangelho afirma ser normais para
o discípulo de Jesus. Estou me reportando ao novo nascimento, a fé
salvadora, o arrependimento bíblico, o poder santificador da Verdade, enfim.
Quantos que estão fazendo parte dessa multidão de evangélicos que não experimentaram
essas realidades e sabe Deus se experimentarão um dia?
Será que só eu tenho a sensação de que esses aspectos vitais
da fé são mais facilmente achados em manuais de teologia, em estudos de
células, em congressos, conferencias, eventos de toda sorte, enfim, do que
ornados na vida dos membros de maneira explicita e testemunhante? Pelo que
vemos e ouvimos não é apenas uma sensação há sim uma real escassez destes
frutos do Evangelho da graça refletindo a Cristo em larga escala
em nossa geração (2 Pe 1.2-11).
E isso é uma carga probatória irrecorrível visto que o
Evangelho da graça deixa consignado essas realidades como princípios fundantes
da nova vida presentes arraigadamente em cada membro do corpo de Jesus. Mark
Dever aprofunda a questão ao sublinhar que há poder criador, conformador,
vivificador na Palavra de Deus! O evangelho é o instrumento de Deus para dar a
vida a pecadores mortos – e igrejas mortas. Ele não tem outro instrumento, Se
quisermos trabalhar em benefício de vida, saúde e santidade renovadas em nossas
igrejas, então, devemos trabalhar de acordo com a maneira de agir de Deus, revelada por Ele
mesmo. Do contrário, arriscamo-nos a correr em vão (Dever -2005).
Uma terceira acusação contra essa nossa geração árida da
graça do Evangelho encontra-se na
incapacidade de irradiar o caráter de Jesus em nossa caminhada existencial.
O Evangelho afirma que por meio da fé através da Escritura/Verdade na mediação
executiva e hermenêutica do Espírito Santo (Ruach L’Qadosh) Jesus seria formado em nós e posteriormente atuaria
no mundo através de nossas vidas transformadas (Rm 6.22-23; 2 Co 3.17-18; Gl
4.119; Ef 4.12-15). Ou seja, à medida em
que nos relacionássemos com Cristo Ele
ministraria dele mesmo em nossa vida em sentido totalitário e profundo (Jo
15.1-5). Por conta disso quanto mais as pessoas nos conhecessem mais
experimentariam do amor de Jesus, de sua compaixão (2 Co 5.12-21). Porém, é
isso que está acontecendo?
Eu poderia ficar aqui trazendo centenas de exemplos e
argumentos dessa dessimetria entre o crente contemporâneo e Jesus, seus
ensinos, sua obra, e não me refiro a uma sincronia absoluta, mas relativa
àquilo que a revelação acentua que deveria estar presente abundantemente em
nós, sua Igreja.
Entretanto penso que o
que escrevi até o momento é mais que suficiente para deixar como um sinalizador que somos uma geração que
urgentemente precisa aprender e apreender da vitoriosa graça do Evangelho de
Cristo para sermos pessoas e cristãos melhores e esse estigma que paira sobre
nós venha rapidamente se desfazer e não sejamos uma geração de cristão digna de
lamento, a começar por mim...
Marcusk barbosa – Psicanalista Clínico, Teólogo, Filósofo da
cultura e Discípulo de Jesus
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