É interessante perceber como não conseguimos nos desvencilhar dos fortes laços que sufocam nossa compreensão mais alargada das ações do outro, notadamente, dos investidos de repercussão ou autoridade pública. Facilmente enveredamos por nossas próprias elucubrações mentais, expertise emocional e imposições contextuais próprias num caminho de juízo de valores das ações notórias dos outros sem perceber que muitas vezes simplesmente caímos em uma perigosa armadilha, justamente por isso o messias sentenciou “não julgueis para que não sejais julgados” (Lc 6.37).
Quais seriam esses perigos que envolvem uma avaliação de ações alheias que deveríamos ter muito cuidado em notar, identificar e separar ao empreendermos qualquer tipo de valorização dessa monta? Penso que seriam os jogos de compreensão e linguagem (para me manter nas relações hadameriana/wittgesteriano): o jogo hermenêutico, o jogo ideológico e o jogo dialético. E tristemente muitas das nossas avaliações do comportamento público do outro, das ações públicas do alheio estão saturadas desses jogos, que no mais das vezes não acertam em cheio o alvo, que deveria ser nossa intenção; mas ao contrário, estão repletas do vigor dialético dos subterfúgios, omissões, distorções, caricaturas, mecanismos de defesa do Self, ambições pelo poder, enfim. Tudo isso não se pode esquecer, sempre servida segundo o rígido menu hermenêutico e ao sabor delicioso de nossas ideologias que acaba colorindo toda nossa artilharia dialética contra as ações alheias.
Um bom exemplo disso é essa babel que se tornou nosso processo político brasileiro altamente polarizado por conta dos abusos fisiológicos históricos e sua caixa de amplificação temporal que vai energizando um sentimento existencial de angustia no brasileiro e que ganha notoriedade nos eventos que marcam o cenário político atual sobre a presidencia do Bolsonaro e sua declaração à nacão.
Bem a medida que vou tranquilamente ouvindo os protagonismos, tanto os verticais empreendido pelos próprios agentes públicos envolvidos, como os horizontais veiculados pelos seguidores e opositores, brilhantemente explicitados nas mídias sociais, noto sem disputas esses jogos de linguagem tomando o cenário e impondo suas regras em ambos os universos.
Entendo que como discípulos do Mestre da Galileia deveríamos ter muito cuidado com nossas avaliações do que vem do outro, por conta do que vem da gente, e pense assim, vem muita coisa daqui, sim de dentro de nós que nos impõe no mínimo cautela avaliativa.
Ter essa perspectiva mais amena contribuiria significativamente para detectar esses jogos da compreensão e da linguagem em nós nocivos para o entendimento mais qualificado, o que chamaria de excedente de visão e contribuiria para uma maturidade humana (e porque não dizer politicosocial) e uma autohonestidade tão decisiva para nosso futuro eterno, porque ninguém consegue de verdade mentir para si mesmo, muito menos fugir de suas ambivalências e hereditarismo sem o poder cataclísmico da redenção. Até pode fingir, e camuflar por meio de vários agenciamentos: prosperidade financeira, sucesso acadêmico, prestigio profissional, inclusive os jogos de compreensão e linguagem, enfim, mas não poderá imiscuir do resultado final (Ap 20.11-15). SDG.
Marcus King Barbosa
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