Veja bem, ou Deus dirigi nossa vida ou não. Na cabeça de Paulo este dilema não tinha razão de ser. O apóstolo não acreditava, como atualmente se crê que Deus direcionava partes da nossa existência e Satanás outra, a contingência outra, o contexto outra, enfim. Paulo cria que Deus soberanamente controlava toda nossa vida, que ela estava dentro de seu propósito (Rm 8.28). Deus não estava ativo apenas em fragmentos das coisas em nosso viver, mas em todos elas (pánta), ao seu modo e condição: “Estamos certos de que Deus age em todas as coisas” (28a). Segundo o que escreveu em seu Comentário Expositivo de Romanos pastor Hernandes Dias Lopes: Nós não somos arrastados de um lado para o outro sob a força insopitável das fragorosas circunstâncias, mas temos a convicção de que Deus tece todas as circunstâncias da nossa vida, objetivando o nosso bem.
Não somente isso, na
concepção teológica de Paulo essas coisas estão sob uma rígida operação do
querer transcendente divino que era o nosso bem (que equivalia a está em harmonia com o seu propósito)
daqueles que estava dos seus auspícios. Ele destaca que as situações conspiravam,
contribuíam (synergei) para esse bem:
“o
fim de beneficiar” (28b). Mas esse bem não é o que está
sendo vinculado inadequadamente no mundo, marcado indelevelmente por um anseio
patológico pelo final feliz, pelo tudo ajustadozinho: prosperidade, cura, milagre, vitória, enfim; sim, claro que a bíblia
vai falar de vitória, bençãos, curas, milagres, mas também dor, sofrimento,
decepção e por fim morte, porém, desniveladamente no discurso pós-cristão
da igreja contemporâneo esses elementos tem perdido apelo e realidade frente a
uma narrativa eminentemente triunfalista, gerando não o paraíso como muitos
pensam, mas uma terrível distopia. Acho fabulosa essa constatação de Augustus Nicodemos
Lopes em seu livro, O Poder de Deus para
a Santificação: “Vemos, portanto, que
nem sempre os que amam a Deus têm o privilégio de experimentar nesta vida os
confortos que ela oferece, as coisas boas, gostosas nem de ter um fim
maravilhoso. O bem a que Paulo se refere nesse versículo é outra coisa, é o bem
aos olhos de Deus, o qual, à luz do contexto, deve ser entendido como a nossa
conformidade à imagem de Jesus Cristo”.
Ademais, fato é que segundo
o apostolo não havia divórcio entre contingência e determinação divina, entre arbítrio
e soberania de Deus, todos estavam em perfeita harmonia e correlação. Como é
isso? Não sei, talvez por isso sou criatura finita e ele criador transcende!
Não sou divino, não consigo explicar tudo na minha vida nem de outros, o que
sei é que essas duas verdades são realidades da existência que estão aí, e que
só são uma problemática, um dilema para nós, não para Ele...
Agora, notou, os
agentes desse cuidado soberano eram aqueles que estavam sob o âmbito do amor
eletivo e chamado eficaz, eficiente e poderoso: todos os que o amam, dos que foram chamados conforme seu plano (28c).
Deus não age, intervém, direciona a vida daqueles que não estão saturados de
amor por ele, dos que não nasceram de novo do trono da graça, e que não agora
respondem de modo correto a esse exercício incondicional de salvação e cuidado,
longe disso, ele atua na vida daqueles que estão inseridos nas dimensões e
fronteiras de sua aliança (berith, diathekê. Essa
é uma verdade claríssima afirmada por William Barclay em sua obra a Carta de Romanos: “A profunda experiência do cristão é que tudo é de Deus; que ele nada
fez e Deus fez tudo. Isto é o que Paulo quer dar a entender aqui”.
Portanto, diante de
todo esse mistério e gloria só podemos adorar, e proclamar tonitruantemente: Glórias ao Deus, seu poder, justiça e amor
eletivo!!! SDG.
Dr. Prof. Marcus King
Barbosa – Psicanalista Clínico, Psicoterapeuta Integratista, Filósofo e Teólogo
Reformado
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