Servir a Deus é uma
consequência natural e até esperada daqueles que experimentaram o poder
redentivo do reino de Deus e da nova era redimida por meio do ministério
messiânico de Jesus de Nazaret.
Na verdade, o impulso de seguir a Cristo é irresistível
nos corações daqueles que sorveram verdadeiramente de sua graça regenerativa.
Isso é magistralmente ilustrado na pessoa do ex-possesso de Gadara: 18 - Por isso Ele voltou
para o barco. E o homem que tinha estado possesso dos demônios suplicou a
Jesus que o deixasse ir com Ele. 19 - Mas Jesus disse que não. "Volte para o
meio dos seus amigos", disse Ele, "e diga-lhes que coisas
maravilhosas Deus fez por você; e como Ele foi misericordioso". (Grifo meu) (Mc 5.18-20).
Servir, portanto, a Deus é testemunhar da nova vida (zõe)
comprometida em sua essência e dinamismo (dynamis) no nosso viver a vida-com (mitdasein)
e é o fruto da completa submissão ao controle e direção do advogado celeste, o
Ruach L’Qadosh: 7 - "O Pai é quem
determina essas datas", respondeu Ele, “e elas não são para vocês saberem”.
8 – “Mas quando o
Espírito Santo descer sobre vocês, então receberão poder para testemunhar com
grande efeito ao povo de Jerusalém, de toda a Judéia, de Samaria, e até dos confins
da terra, a respeito da minha morte e ressurreição”. (At 1.7-8).
Servir, então, é uma atitude indispensável aos seus
filhos/servos (douloi) e se exterioriza, mostrando sua face nua e concreta em
toda nossa existência (existenz): trabalho, família, casamento, amizades, mas
sobretudo, na igreja, na comunidade da fé. Deste modo, nossa adoração e serviço
(shaha,
proskynew) são dimensões mútuo dependentes e desdobrativas da relação
de intimidade com o Deus Todo-Poderoso (El’Shadday): 18 - Então eles chamaram
os dois de volta, e lhes disseram que nunca mais falassem novamente a respeito
de Jesus.
19 - Mas Pedro e João
responderam: "Decidam os senhores se Deus quer que nós lhes obedeçamos em
lugar de obedecermos a Ele! 20 - Nós
não podemos parar de falar das coisas maravilhosas que Jesus fez e disse".
(At 4.18-19).
A obra espiritual que realizamos em nome de Deus como
resultado de sua vida divinal em nós independe de conjunturas e sofrimentos e
se manifesta na forma como nos relacionamos e vivemos tanto dentro como fora da
Igreja na qualidade de cidadãos da celestialidade nesse mundo escuro, sombrio e
carente de redenção (apolytrwsis), como Paulo destaca: 14 - Em tudo quanto vocês fizerem, evitem queixas e
discussões, 15 - de modo que
ninguém possa dizer nenhuma palavra de censura contra vocês. Vocês devem levar
uma vida pura e imaculada como filhos de Deus num mundo em trevas, cheio de gente
desonesta e obstinada. Brilhem entre eles como a luz de um farol, (Fp 2.14-15).
Entretanto, é possível se envolver de tal maneira nas
coisas de Deus, sem no mesmo fôlego estar íntimo de Deus. Não raro muitos
cristãos estão completamente engajados na igreja, inclusive até padecendo
sofrimentos e perdas indeléveis por conta de seu compromisso com o evangelho, sem,
contudo, isso ser produzido e impulsionado pelo combustível certo, pelo princípio
adequado, a saber, o amor (Ap 2.2-4).
Eis aí uma nota de advertência. Não podemos confundir
ativismo e serviço de amor. O ativismo é realizado à revelia do amor, não
precisa dele e se mantem e retira seu sustento do legalismo, do medo e outras
fontes nem um pouco legitimas.
Daí
que a carta à Igreja dos efésios escrita pelo apóstolo João nos ensina que é possível
se ter obras, doutrina correta, perseverança, enfim, mas sem a chama crepitante
do amor (agapê). Tal ausência não é algo subsidiário ou destituído de
significado, mas um item essencial, mais que isso legitimatório. Escreveu o
erudito do novo testamento F.F.Bruce ao comentar essa passagem do apocalipses:
A perda do amor não era um assunto sem importância; é tratado como que
envolvendo uma queda da vida cristã (Bruce-2008). Na verdade, Paulo chega a
afirmar que sem ele, o amor, qualquer realização existencial é destituída de
significado e densidade real: 1 - SE EU TIVESSE o dom de falar em outras línguas
sem tê-las aprendido, se pudesse falar em qualquer idioma que há em toda a
terra e no céu e no entanto, não amasse os outros, eu estaria só fazendo barulho.
2 - Se eu tivesse o dom de
profetizar, e conhecesse tudo sobre o que vai acontecer no futuro, soubesse
tudo sobre todas as coisas, e, contudo, não amasse os outros, que bem faria
isso? Mesmo que eu tivesse o dom da fé, a ponto de poder falar a uma montanha e
fazê-la sair do lugar, ainda assim eu não valeria absolutamente nada sem amor. 3 - Se eu desse aos pobres tudo quanto tenho e
fosse queimado vivo por pregar o Evangelho, e, contudo, não amasse os outros,
isso não teria valor algum. (1 Co 13.1-3).
A igreja de Éfeso era como uma esposa que realizava
perfeitamente todo seu trabalho, todos os seus afazeres, por dever e não por
amor, ferindo assim de morte (na base de sua motivação) toda sua realização.
Segundo o pastor Hernandes Dias Lopes: Sem
amor, nosso conhecimento, nossos dons, e nossa própria ortodoxia não tem valor.
Jesus está mais interessado em nós do que em nosso trabalho (Lopes –
2006).
Para ser bem exato, só conseguiremos superar a tensão
histórica ser versus realizar se nos lembrarmos que o Senhor está muito interessado
não apenas no que fazemos para ele, mas o porquê fazemos ou realizamos e essa
carta é uma prova indisputável e mais do que eloquente dessa verdade.
Dito de outro modo, para Deus não basta: pregar, ensinar,
testemunhar, dizimar, ir regularmente ao templo, cantar no coral, participar
das sociedades internas e comissões, enfim, mas o que motiva todas essas ações.
O que movimenta a engrenagem do nosso engajamento na igreja? Aplausos,
reconhecimento, dever, gloria da denominação, vaidade pessoal, sublimação...
No final o que vai
valer para Deus, o que vai passar pelo seu escrutínio são aquelas obras que
foram motivadas pura e simplesmente pelo amor e feitas tão somente para sua
glória. SDG.
Rev.
Marcus King Barbosa
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