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ADOECER PARA SOBREVIVER


Existe um tipo de patologia psíquica que se caracteriza pelas sucessivas tentativas de ser internado, mesmo com o risco da própria vida, para receber tratamento clínico, cuidados médicos e intervenções cirúrgicas. Essa patologia foi designada de síndrome de Münchausen pelo médico britânico Richard Asher em 1951. E  também é conhecida como síndrome da dependência hospitalar ou dependência policirúrgica.

 Segundo o psiquiatra italiano Francesco Cro: “A síndrome de pode ser definida como uma patologia da relação médico e paciente: indivíduos afetados por ela provocam intencionalmente em si mesmos a manifestação de sintomas, muitas vezes graves, para serem internados e assumirem a identidade de doentes, com todas as vantagens que esse papel comporta” (Cro – 2004).

Para a Associação Americana de Psiquiatria a síndrome Münchausen se localiza etiologicamente entre os transtornos fictícios, diferenciando-se assim tanto da simulação como da histeria (diagnóstico muito comum no passado), essa diferença ocorre porque o único propósito do indivíduo acometido por essa patologia é ser internado e nos casos mais agudos sofrer procedimento cirúrgico.

Na verdade, quem sofre de síndrome de Münchausen vive a vagar de um hospital a outro simulando as mais variadas condições patológicas objetivando se submeter a tratamentos e intervenções cirúrgicas inúteis do ponto de vista de realidade clínica e diagnostical. É de se destacar que não é raro, quem sofre dessa patologia arriscar a própria vida provocando hemorragias, ingerindo remédios para provocar crises clínicas, contaminando feridas para gerar infecção, enfim, tudo isso no anseio obsessivo de conseguir uma internação. Ouçamos mais uma vez Francesco Cro ao destacar os artifícios que os portadores de Münchausen podem fazer para serem hospitalizados: “pode provocar hemorragias ingerindo fármacos anticoagulantes, desencadear crises hipoglicêmicas consumindo insulina ou, ainda, contrair infecções, às vezes graves, contaminando com fezes ou urina feridas preexistentes ou injetando o muco dos ferimentos em varias partes do corpo” (Cro – 2004).

Quais os fatores de predisposição à  doença? Bem, entendendo a síndrome de Münchausen como uma forma de defesa psíquica ou reação emocional podemos elencar alguns fatores de predisposição que podem estar associados a manifestação dessa patologia psíquica, e, que em via de regra, acontecem todos na infancia.

 O primeiro deles é um histórico de longos tratamentos clínicos na infância, frequentemente, se destaca nos históricos desses pacientes um registro de submissão a longos tratamentos de doenças reais na infância. Outro elemento associado a essa crise é a experiência de abandono, muitos que são acometidos dessa patologia tem em comum o relato de abandono familiar. Por fim, a vivencia de maus-tratos é outra variante dessa equação, visto que essa condição está presente no histórico existencial de inúmeros pacientes. Mais informação sobre essa síndrome ler o livro: Não sou doente de Julie Gregory. SDG.

Marcus King Barbosa – Psicanalista Biopsicossocial, Terapeuta Holístico, Filósofo da Cultura e Teólogo Reformado

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