A doutrina da vocação (klêsei) é um antídoto eficaz para o carreirismo ministerial e loteamento de cargos que dista de tempos imemoriais na história do povo de Deus, mas tem assumido lugar de destaque em nosso tempo moderno liquido. Um bom exemplo desse tipo de prática nociva está na troca de oficio de diácono para presbítero (o interessante é que o inverso é muito raro) onde o indivíduo se diz vocacionado para o diaconato, é escolhido e ordenado, ou seja, investido solenemente no oficio e quando surge vaga para presbítero, ele abandona o oficio de diácono (e sua suposta convicção vocacional) para concorrer ao presbiterato (conheci alguns casos desses em minhas lides pastorais!!!).Não é sem motivo que se tem péssimos oficiais conduzindo os rumos da igreja local e um nível tão medíocre nos concílios. Sem falar que, em certos casos, bons diáconos tornam-se péssimos presbíteros.
Fato é que as igrejas estão permeadas desse
tipo de fisiologismo que empresta para o digno oficio ministerial homens que
nunca foram realmente vocacionados, mas que são na verdade carreiristas gananciosos
e vorazes ou que no mínimo estão decisivamente muito confusos. Hernandes Dias Lopes
é lucidamente esclarecedor sobre essa ausência de vocação por parte de muita
liderança dentro das igrejas: “Há pastores que jamais foram chamados por Deus
para o ministério. Foram motivados pela sedução do status ministerial ou foram
movidos pelo glamour da liderança pastoral, mas jamais foram separados por Deus
para esse mister” (Lopes – 2008). Aqui tudo que foi dito especificamente para
pastores pode ser empregado justissimamente para qualquer líder ordenado.
Por conta disso, a atenção
necessária para o lugar da vocação na dinâmica formativa da liderança na igreja
não pode ser exagerada. O reformador francês João Calvino dizia que a vocação
era o elemento fundamental no processo de escolha de líderes para governarem a
igreja: “Assim sendo, para que não se
introduzissem temerariamente homens inquietos e turbulentos a ensinar ou a
governar, o que de outra sorte haveria de acontecer, tomou-se precaução
expressamente a que alguém não assuma para si ofício público na Igreja sem a devida
vocação” (Calvino – 2006).
Nesse ponto precisa-se indagar, o
que é vocação ministerial¿ O chamado (klêtei) de Deus seguido da escolha
eletiva e investidura ordenativa por parte da assembleia dos crentes de homens
para liderar e participar do governo e da dinâmica operativa da igreja visível
(Ef 4.8-11; 1 Co 1.1 entre outros). Essa vocação se equilibra no tripé que é
particularmente vital para o discernimento da natureza genuína de um oficio ministerial,
a saber: chamado divino, a eleição, investidura ou ordenação.
Esse tríplice princípio deixa claro
que sem um indisputável chamado por Deus, um processo legitimo, escriturístico e
eletivo de escolha levado a cabo pela comunidade local. E por fim, de uma
investidura formal, ritualística e separacional. Não há como falar em sentido
lídimo, cristão e bíblico de uma vocação ministerial. Negligenciar a doutrina
da vocação é relegar o governo da igreja a homens ímpios e mal intencionados e
um tipo de governo levado a efeito por ‘lideres’ desse naipe jamais terá a
benção divina.
É, portanto, urgente rever a
política eclesial de escolha de liderança revendo e submetendo-a ao crivo e exame
criterioso, minucioso da Revelação canônicoliterária, entenda a Escritura e
deixar que ela reformate e reformule todo o colegiado ministerial à medida em
que ela assume o lugar só seu de referência normativa e autoritativa para a
escolha e ordenação de oficiais na comunidade espiritual de Jesus. SDG.
Marcus King Barbosa
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