O conceito de que o novo relacionamento com Deus se dá por meio do Espírito habitando em nós é um tema central na teologia cristã. Este entendimento destaca a ideia de uma transformação interior e pessoal que transcende a observância ou vivência de rituais ou leis externas.
Na Revelação, notadamente, no contexto
revelacional do novo Testamento, encontramos várias passagens que sustentam
essa perspectiva. Vejamos, no Evangelho de João (Jo 14:16-17), Jesus promete
enviar o Espírito Santo para estar com os crentes e habitar neles. Este
Espírito (Ruach L’Qadoch) é descrito como o Consolador (paraklêtos),
o Espírito da verdade, que guia, ensina e revela a vontade de Deus aos crentes.
Outrossim, o apóstolo Paulo
também aborda essa transformação interna em suas cartas. Por exemplo, em sua
carta literária aos coríntios ele destaca que os discípulos são santuários do
Espírito: 19 Será que vocês não sabem que o corpo de vocês é santuário do
Espírito Santo, que está em vocês e que vocês receberam de Deus, e que vocês
não pertencem a vocês mesmos? ( 1 Co 6:19). Aqui há uma assertiva e profunda
verdade de uma relação intersubjetiva entre o cristão e o Espírito. Dito de
outra forma, Paulo enfatiza que o Espírito Santo não é apenas um ajudador
externo, mas reside dentro dos crentes, fazendo deles templos vivos de Deus.
Esse entendimento tem profundas implicações práticas e espirituais.
Primeiro, implica que o
relacionamento com Deus é dinâmico e contínuo, marcado pela presença constante
e criativa do Espírito. O Espírito Santo atua como guia e conselheiro,
ajudando os crentes a discernir e seguir a vontade de Deus em suas jornadas
existenciais. De fato, esse relacionamento direto, pessoal e pactual com Deus,
por meio do Espírito, contrasta com a relação na antiga aliança, tanto no que
diz respeito a relação com o Espírito marcada por temporalidade e não
internalidade intrassubjetiva, como em todo o universo mediatório do
sacerdotalismo ritualístico.
Segundo essa habitação do
Espírito promove uma transformação moral e espiritual. O Espírito Santo
trabalha para renovar a mente e o coração dos crentes, produzindo uma profunda e
integral transformação de sua personalidade. Esse trabalho interiorizado do
Espírito é designado por Paulo do fruto do Espírito: 22 Entretanto, o
fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade,
fidelidade, 23 mansidão e domínio próprio. Contra essas virtudes não há Lei.
(Gl 5:22-23). Esse processo de santificador do Espírito em nós é contínuo e
expansivo tendo como propósito fundamental conformar os crentes à imagem de
Cristo.
Na verdade, a presença do
Espírito Santo proporciona um senso de unidade vigoroso e missional gerando um
senso inquebrável de pertencimento entre os crentes. Ou seja, todos aqueles que
têm o Espírito Santo habitando em si são considerados membros do corpo de
Cristo, a Igreja (1 Co 12.13). A consequência disso é a criação da comunidade
espiritual de Jesus como seu corpo místicoespiritual. Essa percepção é afirmada
de modo claro por John P. Thackway: Seu novo relacionamento conosco se dá
por meio do Espírito habitando em nós (Thackway -2017).
Portanto, o novo
relacionamento com Deus por meio do Espírito habitando em nós é uma
transformação profunda que redefine a identidade (Identität neu definiert)
e a vida dos crentes. Esse relacionamento é marcado por uma comunhão íntima com
Deus, uma transformação moral e espiritual contínua, e uma união com outros
crentes na comunidade de fé.SDG.
Rev. Marcus King Barbosa
Pastor Batista Reformado,
Teólogo Público, Filósofo da Subjetividade
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