A união da Igreja com
Jesus é uma doutrina central e indispensável da fé fundamental cristã. A sua
imprescindibilidade se dá por sua natureza fio condutor para a realização
existencial da mediação sacrificial levada a efeito por Jesus.
Quero dizer com isso
que é por meio da união da Igreja com Jesus que sua obra messiânica ganha
relevo experimental na vida de todos aqueles que por meio da fé neotestamentária
se tornam partícipes de sua comunidade espiritual. Sem esse liame, esse link,
por maior efeito que houvesse na obra de Cristo ela padeceria do mal da
ineficácia material.
Entretanto, a união
de Jesus é com a Igreja. Isso é muito significativo. E demanda que entendamos
os dois eixos fundantes dessa trinca assertiva: união e Igreja.
O primeiro nos
comunica o fato de que a vinculação do Logos não se deu com uma percepção com
que os homens ao longo da história entenderam por igreja, nem tão pouco com as formais
manifestações histórico, temporais e locais da igreja, nem ainda com uma
concepção, ideia formal-teológica de uma denominação ou grupo de indivíduos.
Mas com a Igreja, entendendo aqui a realidade histórico-existencial da comunidade
trazida a existência histórica (no sentido redentivo-temporal) no Calvário e em
Pentecoste, isto é, na morte vicária e ressureição reivindicativa de Jesus.
O segundo eixo é
união, que como o enunciado deixa claro é com Jesus. Não com um credo sobre
ele, não com a cartilha da denominação acerca dos direitos filiativos, nem
mesmo com as nuances práticas da dinâmica institucional. Isso nos remete a
indagações do tipo: quem está unido? Como se dá tal união? Qual sua natureza?
Enfim.
Entendo que nesses
tempos líquidos de relativizações, pluralismos hermenêuticos da Verdade
(alêteia) e esvaziamentos conceituais que caracteriza a pós-modernidade é
tremendamente relevante discernirmos qual a natureza da união da Igreja, até
porque, respaldado numa concepção formalista desta doutrina muitos estão tanto designando
de igreja, o que sem disputa não é, bem como entendendo a união com Cristo no
sentido que é explicitamente um esvaziamento de sentido que a Revelação bíblica
conferiu.
Dito de outra maneira, há muita gente dentro
da igreja completamente equivocado quanto essa doutrina, tanto no sentido do
que seria a igreja como no significado e método desta união.
Penso que a abordagem
do apóstolo Paulo na sua carta aos romanos (6.1-23) fornece marcadores mais que
suficientes para elucidar a problemática pedagogicamente construída, visto que
nela Paulo sinaliza uma reflexão teológica sobre exatamente essa temática da
união da Igreja com Cristo e suas implicações na vida dos cristãos.
Portanto, extrairemos
os princípios por ele fornecidos em sua epístola para compreendermos, pela
iluminação e graça do Espírito esse profundo, edificante e pertinente ensino.
A UNIÃO DA IGREJA COM
JESUS É UMA RUPTURA E RECONEXÃO EXISTENCIAL RADICAL
A igreja unida a seu
Cristo é a confraria dos ressuscitados, daqueles que morreram para sua
existência narcísica, mundana e autônoma para viverem a existência do messias,
agora na sua nova jornada temporal.
Deste modo deve-se
entender que quando Jesus, Paulo ou qualquer dos cultores do novo testamento
tratam da união de Jesus com a igreja, é sempre uma união existencial, uma
existencialização do messias com sua Igreja universal, espiritual, regenerada e
redimida que constitui sua vida corporativa na temporalidade histórica por meio
dos verdadeiramente salvos.
Paulo assevera
que fomos unidos ao universo existencial do logos encarnado de uma maneira
definitiva e irremediável: “Se desse modo fomos unidos a Ele na semelhança da
sua morte, com toda a certeza o seremos também na semelhança da sua ressurreição.”
(Rm
6.5). Aqui fica explicitado que a união de Jesus é com uma igreja onde o
batismo não foi um mero rito de iniciação, mas o emblema, o símbolo do óbito e
do renascimento da própria existência na morte e ressurreição do Cristo. Ou
seja, no batismo está representado que aqueles que foram unidos a Jesus
morreram para essa vida e ressuscitaram para viverem a vida de Cristo nesse
mundo.
Acabou,
portanto, a autonomia, os direitos, pulsões e compulsões por este mundo
decrépito e sentenciado:
- como assim?
- Claro! Porque morto não faz nem sente nada, está morto!!!
Notou, então, que é mais que levantar a mão,
que professar ritualisticamente a fé, que frequentar assiduamente os cultos, que
desempenhar cargos de liderança institucional, enfim. É morrer...
O cristão unido
a Jesus não é aquele que simplesmente levantou a mão e aceitou por um gestuario
convencionado, mas aquele que abraçou sua morte e exibi seu obituário com
orgulho. Me pergunto, será que isso tem sido realmente ensinado? Uh, sei não,
para ser bem sincero muita gente que a igreja tem dado garantias de que está
unido a Jesus e outras que pensam (por motivos e fundamentações errôneas) que
estão unidos a ele, na verdade não estão, pelo simples fato de que estão ainda
bem vivas...
De fato é uma
monstruosidade conceber que gente sem regeneração e consequentemente sem
conversão está inserida na vida de Jesus como sua parte indissociável. O que é
a implicação natural da aplicação generalizada, universalista e sem filtro
dessa doutrina, feita dominicalmente nos templos evangélicos através dos apelos
dramáticos, da garantia desta união a meros decididos e a validação da fruição
das bênçãos dessa sociedade para aqueles que mesmo após o batismo demonstram
pouco ou nenhuma evidencia de conversão, isso apenas a título de exemplo. (Continuação próxima postagem)
Rev. Marcus King Barbosa - Psicanalista Clínico, Teólogo, Filósofo da Cultura, Pastor Reformado
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