OS PROBLEMAS DAS RELAÇÕES E AS
RELAÇÕES DE PROBLEMAS NA PÓS-MODERNIDADE
Que as relações
estão em crise todos já sabemos, não se constituído nenhuma novidade. Agora o porquê estes estão passando por essa
crise dantesca é que de fato é o verdadeiro desafio. Muitos ao analisarem a
problemática dos relacionamentos se fixam na variável dos afetos e sentimentos;
isto é, uma abordagem subjetivista.
Penso que essa
abordagem está irreparavelmente fadada a inépcia e com toda certeza erra o alvo
fragorosamente. Não me entenda mal, é óbvio que afetos e sentimentos entram
numa equação, que pretenda ser elucidativa à crise relacional vivida em nossos
tempos, porém, não como protagonistas, nem como resposta primária que é o
diapasão que vem sendo dado. Compreendo que há um vilão oculto na penumbra.
Dito de outra
forma, a derrocada dos relacionamentos na pós-modernidade é mais resultado de
um compromisso axiológico (sistema de valores) equivocado do que dos afetos e
sentimentos, que nesse sentido funcionam mais como rescaldo do que propriamente
o incêndio.
LENTES EMBAÇADAS RELAÇÕES CONFUSAS
Os
relacionamentos estão em profunda agonia pela forma como em nossa era líquida
são concebidos. A maneira que se lê os
relacionamentos atualmente está inegavelmente condicionada pela
fragmentariedade, fluidez, instantaneidade e se interrelaciona causal e
imediatamente com a deformação que atinge essas mesmas relações.
Daí que é decisivo discernir quais são os
sinalizadores conceituais prévios e pressuposicionais que modelam e dão o tom
aos relacionamentos na pós-modernidade para poder se obter o êxito tanto no
diagnósticocomo no tratamento desse terrível mal que assola esses
relacionamentos.
1.
Relações apenas um meio para
Pensando
assim o primeiro problema que pode
ser encontrado nas relações pós-modernas é sua natureza de meio e não fim. Sim, os relacionamentos não são mais um fim
em si mesmo, não se procura mais uma relação pelo simples fato de se
relacionar, é sempre como uma via para alguma satisfação pessoal, sexual,
comercial, pulsional, enfim.
As relações não são mais a casa (oikia) que abriga, mas o trampolim que
ejeta para o “próximo nível”. Abusa-se dos relacionamentos como meio para
alcançar a gratificação dos desejos deificados.
Relações fast food
O que temos hoje são relacionamentos para
consumo do tipo fast food de preferência! E então se reclama da caoticidade que
se abate como tsunami sobre as relações. Zygmunt Bauman é mais que lúcido
quando destaca que assim é numa cultura consumista como a nossa, que favorece o
produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação
instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas,
garantias de seguro total e devolução do dinheiro. A promessa de aprender a
arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que
seja verdadeira) de construir a “experiência amorosa” à semelhança de outras
mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas características e
prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço (Bauman
– 2004).
2.
Ego patrão impiedoso
Outro problema
destacado nas relações pós-modernas
é a sua dependência doentia do ego. E quando me reporto a uma
relação marcadamente ego dependente estou falando de um relacionamento permeado
de inconsistências, descompassos, fisiologismo; ou seja, todas as vicissitudes
da identidade fragmentada do homem pós-moderno.
É por
conta dessa relação de capilaridade travada pelo ego no nível dos
relacionamentos que penso que Cristo asseverou que se deveria negar (aparnêsásthw: verbo imperativo aoristo:
demandando uma ação impositiva e completa) controle mandatário ao ego se alguém pretendesse ser seu
companheiro de viajem: “24 Então Jesus
declarou aos seus discípulos: Se alguém deseja seguir-me, negue-se a si
mesmo,tome a sua cruz e me acompanhe.” (Mt 16.24).
A
complicação está porque não apenas não se
nega as exigências pulsionais do self
nos relacionamentos, como se entrega a este, sem reservas, a condução
tresloucada das relações, onde isso levou? A conjuntura de falências múltiplas
dos relacionamentos por meio do agigantamento do narcisismo dinâmico ditando
relações hobbesianas descontínuas e episódicas, no dizer de Bauman: “relações
humanas fragmentárias e descontinuas” (Bauman-2011:p.211).
Evidentemente
que com esse tipo de característica flutuante e inconsistente desenhando a
planta dos relacionamentos é improvável ter-se
relações sólidas e douradoras sendo essa a elucidação (pelo menos ao me
ver)do alto índice de rupturas relacionaisem todos os extratos e segmentos
nessa era pós-moderna.
3.
Selfs predatórios e relações vitimas
Um
terceiro problema encontrado nas
relações pós-modernas é seu aspecto predatório e narcísico. Aqui
encerro esse triunvirato argumentativo salientando essa tendência
autodestrutiva dos relacionamentos na modernidade líquida que é sua voracidade
predatória para consumir relações motivadas pelo narcisismo insaciável da sua
identidade problemática, privatizada e desregulamentada.
Para ser
bem sincero, no mais das vezes não se tem relações, mas alimento para ser
vorazmente engolido e depois descartado. No fast food das relações pós—modernas
está liberado experimentar, quanto mais variedade melhor. Bem rápido, ligeiro e
descartável, mas tudo politicamente correto e orgânico.
Se fosse
se usar uma metáfora para os relacionamentos nesses tempos sombrios seria da
caçada, ou seja, as relações estão mais para uma caçada clandestina privada,
vip, do que conexões de mutualidade existencial e reciprocidade socioafetiva
responsiva e responsável. Competi-se mais do que se ama, se devora mais do que
se investi em carinho, afeto e cumplicidade. A consequência: divórcio,
violência domestica, social, assedio moral, profissional, abusos, internações,
dependências...
Estranhos íntimos
Por isso
tanta reclamação de um lado do pólo passivo das relações acerca do
estranhamento que se abateu sobre o relacionamento. Tal estranhamento se camufla
convenientemente sob o disfarce do meu espaço pessoal, minha privacidade, um tempo pra mim, enfim, toda essa verborragia
que inunda os consultórios psicoterapêuticos ou as entediantes D.Rs (discussão
da relação).Relações predatórias fazendo com que se viva entre estranhos mesmo
que intimamente próximos, como dizia
Bauman: “A vida na cidade é levada a cabo por estranhos entre estranhos”
(Bauman – 2011:p.174).
Vou um
pouquinho além, só na cidade? e na família não? E no casamento não? Certamente
que sim. Para ser franco não sei se a crise relacional corporativa,
institucional, coletiva, não é fruto da
implosão privada, pessoal, familiar...
PREPARANDO UM ‘FINAL’
Bem chego
nesse ponto, mas não sem antes perguntar: Como vai seus relacionamentos? Em que
nível de reciprocidade, cumplicidade, solidez e conectividade ele está se
dando? Quanto suas relações são prioridades em paralelo a seu papel
sociocultural ou seu desempenho profissional? Você conhece realmente seu
companheiro de jornada? Ou ele é um estranho a se revelar? Quem são seus
filhos, seus pais, sua esposa, seu esposo? Seus relacionamentos são um fim ou
um meio para?
Dependendo
das respostas seu relacionamento pode estar em maus lençóis! Que fazer? É tempo
de olhar criticamente para as suas relações disposto, se necessário a
refundá-las, redimensioná-las. É preciso compreender que os relacionamentos, os
afetos e sentimentos que nutrimos para com aqueles que compartilham conosco o
ser-aqui-nesse-mundo, não são um monte de Isso, nem material barato ou mesmo
irrelevante, longe disso! São a única coisa que faz sentido nessa existência
nosense. Por fim é preciso insistir,mesmo que seja clichê que gente vale mais
que coisas!!!SDG.
Rev.
Marcus King Barbosa – Teólogo, Psicanalista Clínico, Filósofo da Cultura e
Pastor Reformado
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