Nossa atividade como
teólogo público depende fundamentalmente do fazer teológico. Por seu turno esse
fazer é oriundo da percepção hermenêutica de que Deus se comunica com sua
criação moral criada a sua imagem (imago Dei), ou seja, o
entendimento de que Deus falou com sua criação. Esse falar, obviamente, é
mediado (Vermittelte), ele não chega em nós num discurso divino
literal, mas ao contrário, é desvelado, adaptado e contextualizado a
nossa condição de criaturas, nossos limites e fragilidades essenciais; isto é,
de entendimento, de imaginação e percepção, como explicitou R.C. Sproul:
Deus
se dirige a nós em nossos termos, e, porque ele nos fez à sua imagem, há uma analogia
que nos proporciona um meio de comunicação com ele
(Sproul- 2017).
Esse meio usado por
Deus para se descortinar à sua criação a teologia vai designar de revelação (g’lâh,
apokalepsis, phanêrosis). Revelação é, portanto, a
forma como Deus se desvela, se descobre (epistemologia) para sua criação naquilo
que ela pode conhecer dele como ser divino (ontologia), da sua ação criadora
(cosmologia) sua interação e obra redentiva. Dentro dessa conceituação a
teologia reformada abarca o revelar divino dentro de uma ambivalência: revelação
natural e sobrenatural. A primeira testemunha da presença indisputável do ser
divino em sua face criadora e provedora e é fundante para a acusação cósmica (Rm
1.18-23), como assinalou Thomas R. Schreiner: O mundo natural, como todo, da
testemunho de Deus por meio de sua beleza, complexidade, estrutura e utilidade
(Schereiner - 2018).
Por sua vez a revelação
sobrenatural é o autocomunicar divino pelo meio sobrenatural da linguagem (revelatio
verbalis), ou seja, da Palavra (d’barim) que se comunica
de modo peculiar com os homens (Gn 1.28; 2.15-17; 3.15; 2 Rs 17.13; Sl 103.7;
Hb 1.1-2; Jo 1.18, entre outros) e se estabelece como meio executivo e
instrumental do pacto redentivo sendo experimentada salvadoramente apenas pela
fé. Sobre essas características da revelação verbal escreveu Louis Berkhof:
A
revelação especial está arraigada no plano de redenção de Deus, é dirigida ao
homem na qualidade de pecador, pode ser adequadamente compreendida e assimilada
somente pela fé, e serve ao propósito de assegurar o fim para o qual o homem
foi criado a despeito de toda a perturbação produzida pelo pecado. (Berkhof-2000)
Essa revelação por meio
da linguagem ganha seu apogeu na encarnação do verbo de modo que não há nenhum
decisivo conhecimento de Deus a parte da comunicação reveladora de Cristo.
Sobre isso Calvino é instrutivo: Após a queda do primeiro homem, nenhum
conhecimento à parte do Mediador tem poder para a salvação (Calvino – 2018).
Dessa forma, toda a
superestrutura da salvação depende dessa revelação divina de sua vontade
redentora e dos caminhos teológicos, históricos, existenciais e escatológicos que
essa vontade determinou e que nos é facultada por meio de sua autorrevelação
fazendo dela o primeiro trabalho da construção teológica. SDG.
Rev. Dr. Marcus King
Barbosa
Pastor Batista
Reformado, Teólogo Público e Filósofo da Subjetividade
Comentários
Postar um comentário