Pular para o conteúdo principal

O mar turbulento de nossa subjetividade e a depressão

 




Quando me refiro a  metáfora  “mar turbulento de nossa subjetividade”  estou utilizando-me de uma imagem poderosa para descrever a complexidade e a profundidade das emoções humanas. Nossa subjetividade, ou seja, a maneira como percebemos e interpretamos o mundo, é influenciada por um emaranhado de fatores tendo o sujeito como fator central; ou seja, hereditarismo, interações, abusos, tramas, expectativas, percepção dos papéis e posição sociais, enfim.

 

Nesse sentido, quando tratamos sobre a formação etiológica da depressão, essa metáfora pode ser particularmente valor. Por quê? Porque a depressão em muitos casos vai emergir de um emaranhado denso de emoções, sentimentos e pensamentos que se tornam difíceis de discernir: sentimentos de tristeza, desesperança e ansiedade, enfim. Essas sensações podem se acumular, criando uma sensação de estar à deriva em um oceano tempestuoso, daí minha utilização da metáfora de um mar turbulento.

 

A verdade é que, a subjetividade, nesse contexto, pode ser vista como um lastro, algo que pesa e influencia nosso estado emocional. A maneira como interpretamos nossas experiências e o significado que atribuímos a elas pode amplificar ou atenuar essa constelação de emoções. Por exemplo, uma pessoa que internaliza críticas e falhas como reflexos de sua própria inadequação pode estar mais propensa a desenvolver depressão.

 

Outro fator relevante para essa interconexão da subjetividade e depressão. Para entender essa correspondência é necessário compreender que a subjetividade é moldada por fatores culturais e valores sociais. Esses fatores e valores podem em muitos momentos gerarem expectativas irreais de sucesso, beleza ou felicidade (muitas vezes promovidas pela mídia e pelas redes sociais), contribuindo sensivelmente para aproarem sentimentos de inadequação e fracasso, alimentando por seu turno um “mar turbulento” de emoções negativas e por derivação formar ou atualiza a depressão no sujeito.

 

Portanto, entender e trabalhar com nossa subjetividade é crucial para a saúde mental. Terapias como psicoterapias dinâmicas, psicoterapias analíticas, psicoterapias cognitivo-comportamental podem ajudam a reestruturar pensamentos negativos e a desenvolver uma visão mais equilibrada e realista de si mesmo e do mundo que se vive, ajudando a navegar melhor por esse mar emocional turbulento e angustiante. Pense nisto. SDG.

Dr. Marcus King Barbosa

Psicanalista Clínico

Psicoterapeuta Integratista

Neuropsicanalista

Filósofo da Subjetividade

 

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

The Divine Self-Revelation and the Work of the Reformed Theologian

  Our activity as public theologians fundamentally depends on theological work. This work, in turn, originates from the hermeneutical perception that God communicates with His moral creation made in His image ( imago Dei ), meaning the understanding that God has spoken to His creation. This speaking is obviously mediated ( Vermittelte ); it does not come to us in a literal divine discourse but is instead unveiled, adapted, and contextualized to our condition as creatures, to our essential limits and frailties—namely, understanding, imagination, and perception. As R.C. Sproul explained: God addresses us on our terms, and because He made us in His image, there is an analogy that provides a means of communication with Him (Sproul - 2017).   This means used by God to reveal Himself to His creation is designated by theology as revelation ( g’lâh, apokalypsis, phanêrosis ). Revelation is, therefore, the way God unveils or reveals Himself (epistemology) to His creation in what i...

Jesus o criador

  Cristo como o filho eterno gerado por Deus/Pai é parte de uma relação divina que foi designada na tradição teológica cristã de a trindade, ou triunidade divina. Nessa correlação dentro da ontologia que inclui o Espírito Santo ( Ruash L’Qadosh ) todos possuem a essência divina ( ousia ) distinta em modos de subsistência ou pessoalidade (personas). Esse entendimento foi bem firmado em um símbolo confessional antigo, o credo de Atanásio e inserido dentro do Livro de Concórdia, documento confessional Luterano: E a fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância. Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo é uma só –igual em glória, coeterna em majestade (Livro de Concórdia, São Leopoldo, Porto Alegre, Concórdia/Sinodal, 2023). Vemos também essa confissão de uma visão trinitária de Deus em outro credo confessional, A Fé ...

SOMOS UMA GERAÇÃO DIGNA DE LAMENTO

Penso que somos uma geração que até o momento não provamos do poder real do Evangelho da graça. Não me compreendam mal, não estou dizendo que não temos um conhecimento intelectual e teológico   das doutrinas da graça, não estou também afirmando que não temos milagres, conversões, nem tão pouco estou sugerindo que não temos um grande império religioso com nosso templos abarrotados de fieis. Fazer uma declaração assim seria contrario senso, o que estou tentando delinear é que até então somos uma geração espiritualmente pobre de uma verdadeira experiência com o poder da graça do Deus trino como tornada disponível no Evangelho de Cristo (Tt 2.11-13). Você deve estar indagando por que ele diz isso? E tem toda razão de assim fazê-lo visto que essa é uma declaração ousada e comprometedora pelo seu conteúdo. Então por que estou fazendo isso? Bem minha afirmação não é arbitrária, mas resultado de uma reflexão madura e profunda do próprio Evangelho como quando confrontado com a prá...