A frase de Lacan, "Cada
um alcança a verdade que é capaz de suportar", carrega uma
profundidade que nos leva a refletir sobre a natureza subjetiva da verdade e a
capacidade humana de enfrentá-la. Em um mundo onde a realidade é muitas vezes
complexa e dolorosa, a verdade que enxergamos se torna uma espécie de espelho
distorcido pelo qual incorporamos em nossa existência apenas o que estamos
prontos para aceitar.
Essa verdade, então,
não é universal nem absoluta, nada tendo de ver com a Verdade (alêtheia)
que Jesus se refere ser libertadora (Jo 8.31-32). Portanto, essa verdade
subjetiva, por assim dizer, ela se molda conforme nossos limites emocionais,
cognitivos e afetivos dentro de nosso universo intersubjetivo. Daí discernimos
que não é essa verdade que se adapta a
nós, mas nós que nos adaptamos aquilo que percebemos dela por nossos sentidos,
filtrando aquilo que conseguimos suportar sem desmoronar como sujeitos.
Esse processo inegavelmente revela a fragilidade hermenêutica do ser humano,
que anda no limiar entre o desejo versos conhecimento, numa mediação temerosa realizada
pelo medo do desconhecido.
Desse modo, a frase analítica
de Lacan sugere que o enfrentamento da verdade subjetiva é um processo íntimo,
angustiante e solitário, onde o In-sich-sein (ser-em-si) se
depara com suas próprias fragilidades e temores abissais, de fundo. Somos,
então, prisioneiros de nossas próprias verdades, vivendo sob a sombra, o domínio
do que podemos suportar. E, assim, a verdade se torna um fardo, mas um fardo
que, entendo, precisamos levar, aceitar e a integrar em nossa existência. SDG.
Dr. Marcus King Barbosa
– Teólogo Público, Pastor Batista Reformado e Filósofo da Subjetividade
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