A forma como a
Revelação nos apresenta a igreja de Jesus nos documentos canônicos da nova
aliança força o reconhecimento de sua natureza dual, ambivalente: Invisível e
visível. O Novo Dicionário da Bíblia John Davis descreve essa complexidade da
igreja da seguinte maneira: A igreja pode existir independente de ter uma
forma visível, porque ela tanto é visível quanto invisível (Davis -2005,
p.593).
Impõe esta descrição estarmos atentos ao fato
inapelável de que no âmbito da sua visibilidade, ou seja, de seus marcadores
históricos, temporais e institucionais é possível albergar tal grau de
corrupção que sua própria identidade como igreja de Jesus possa naturalmente
ser colocada em disputa. João Calvino, o reformador de Genebra ao tratar da
natureza mista da igreja, no tocante a sua visibilidade disse o seguinte: Entretanto,
nesta estão imiscuídos muitos hipócritas, que nada tem de Cristo a não ser o
nome e a aparência (Calvino –2006, VL 4. P.33).
A igreja é espiritual, ou seja, é fruto da
onipotência executiva do Espírito (RuachL’Qadosh), é atemporal e
supra-histórica em seu regaço somos gerados, nutridos e guiados, isso no que
diz respeito a igreja universal e mística de Jesus que se constitui devidamente
seu corpo, sua noiva dos quais ele é o cabeça e noivo. Falando sobre essa
igreja em seu Catecismo Maior, o reformador Martinho Lutero assinalou : Pois,
em primeiro lugar, ele tem uma congregação peculiar neste mundo, congregação
esta que é a mãe que gera e carrega a cada cristão mediante a Palavra de Deus,
que ele revela e prega (Lutero – 2000, VL 7, p.396).Vejam que a igreja só
pode desempenhar sua vocação conceptiva pelo poder da Dabarim (Palavra) de Deus
à medida em que permanece fiel a ela.
Em que se pese
essa verdade, no que diz respeito a igreja visível, a realidade é outra. Vemos
profundos descompassos e assustadoras dessemelhanças com Cristo e sua missão
que podemos tratar sem exageros de um processo profundo de comprometimento de
sua identidade, a síndrome de Laodiceia (Ap 3.14-21). Comentando sobre a
condição espiritual da igreja de Laodiceia John MacArthur Jr. afirmou que a igreja: não era nem fria,
rejeitando abertamente a Cristo, e nem quente, cheia de zelo espiritual. Em vez
disso seus membros eram mortos, hipócritas que professavam conhecer a Cristo,
mas que não pertenciam verdadeiramente a
ele (MacArthur Jr - 2010).
A questão é que
esse processo de comprometimento da identidade é algo extremamente pungente na
igreja pós-moderna, e não é exclusividade das igrejas localmente definidas, mas
longe disso é uma marca de muitas instituições cristãs, poderosas denominações
e movimentos inteiros...
Os teólogos da
assembléia de Westminster no capítulo da Confissão de Fé destinado a Igreja
salientaram que alguma instituições não
mais podem ser consideradas igrejas de Cristo no sentido próprio e bíblico,
porém, verdadeiras, agencias luciferianas, dizem eles: “Algumas tem degenerado ao ponto de não serem mais igrejas de Cristo,
mas sinagogas de Satanás”. Neste ponto acompanhada ipsislitteris, pela Confissão de Fé Batista de Londres 1689.
Segundo A.A.Hodge
a pecaminosidade dinâmica e a presença do pecado nos santos (que só será
resolvida na glorificação por ocasião da vinda do reino de Deus em sua glória
na parousia de Jesus) não permitem que tenhamos igrejas absolutamente puras, o
que torna qualquer projeto dessa natureza um empreitada utópica e neurótica,
além do que deixa mais que patente que muitas instituições historicamente
reconhecidas como cristãs e algumas até ortodoxas não continuarão mantendo esse
status, salienta ele: à experiência universal das igrejas, nos leva à
conclusão de que as próprias igrejas mais puras ainda são muito imperfeitas e
continuarão assim até o fim, e que algumas se tornarão corrompidas ao ponto de
perderem totalmente seu caráter de genuínas igrejas de Cristo (Hodge –
1999, p.428).
As implicações de
tudo que foi dito até o momento para nosso tempo existencial como cristãos são
muitas em todos casos, primeiramente saber distinguir entre a instituição
e seu religiosismo (que traveste santidade em moralismo, fidelidade em
ritualismo, adoração em comércio da fé) e a igreja de Jesus.
Em segundo lugar
que nenhuma igreja visível e histórica está livre de degeneração in toto no sentido de perder a própria condição de
igreja de Cristo, quer por conta de seus
descaminhos doutrinários e existenciais, quer por conta de seus delírios e
promiscuidades adorativas, quer ainda por conta de seu desamor a missão, indiferença
aos irmãos e abandono da vocação espiritual...
Terceiro que já
em nosso tempo temos esse processo de transmutação de igrejas em sinagogas de
Satãem grande avanço, de maneira que temos igrejas que se enxergam cristãs, mas
que não são mais e há muito tempo,portanto, não são mais mães do fieis,
comunidade dos santos e veículos espirituais de vida, ao contrário, são
industria de incredulidade, berçário de perversões e devoradoras de almas (Ap
18.13), histórico profeticamente verdadeiras babilônias que os fieis discípulos
de Jesus só tem uma ordem de seu messias: Saiam dela povo meu!!! (Ap 18.4). SDG.
Rev. MarcusK
Barbosa – Psicoterapeuta, Filósofo da cultura, Teólogo e Discípulo de Jesus
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