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ENTENDENDO E LIDANDO COM O CONSUMO DE COMPRAR

 

Nossas ações e reações são resultados de nossos compromissos valorativos, lu seja, nossa indústria de valores. Afirmo então, que nosso comportamento é uma afluente das nascentes dos nossos: desejos, pensamentos, sonhos...

Dito isso, o consumo exacerbado, compulsivo, patológico, a tal da “mania” de comprar é fruto de uma reação subjetiva do nosso Self às circunstâncias desagradáveis, situações perturbadoras, relações abusivas, enfim, todas emocionalmente significativas e angustiantes.

Aqui estabeleço sem dúvidas que o impulso qualificado de consumir é um mecanismo de defesa do ego. Tem formação clinicamente reativa. Aqui precisamos conceituar o que seja o papel dos pensamentos obsessivos. Estes tem o condão de elevar de maneira catastrófica os níveis de ansiedade dentro do indivíduo, que impõe ao cérebro a execução de vários mecanismos de execução que estabeleçam o alivio da tensão gerada pelos pensamentos obsessivos. Aí entra o consumismo compulsivo por comprar.

Desse modo, ninguém compra dessa maneira que colocamos em tela, isto é, desvairada, tresloucada, sem uma justificativa psicopatológica, que desfigure sua percepção. Inclusive esse tipo de pessoas são chamadas de shopaholic. Segundo Murray Stein: É surpreendente como as concepções de algumas pessoas são realmente distorcidas (Stein – 2012).

De fato, são essas perspectivas alteradas pela obsessividade a resposta do mundo interior, da interioridade ao quadro de crise e insatisfação que a existência do shopaholic estabelece. A compulsão consumista gera uma distorção poderosa da realidade e afeta sensivelmente o entendimento da distinção (que todos deveríamos ter) da natureza do consumo necessário e a vontade doentia, psicopatológica de comprar, a famosa crise:

- Preciso ou quero!

Não percebemos de imediato isso por conta da débil aceitação do império do ter em nosso viver diário, que por força de nossas personas são atendidos sem questionamentos. Sobre isso vaticinou a doutora Ana Beatriz Barbosa Silva: A cultura consumista e individualista está tão profundamente enraizada em nosso comportamento diário que na maioria das vezes, não percebemos o quanto vivemos sob a ditadura do ter (Silva – 2014).

É exatamente essa maneira de discernir a realidade que alimenta a compulsão doentia por comprar desordenadamente, mesmo sob os farrapos da vida financeira e volumes descontrolados das dívidas. Para o shopaholic as compras, o consumo, funcionam como uma panaceia que cura todo os males, notadamente seu particular mal...

Entretanto, como se vê comprar não resolve seu problema, não soluciona sua crise, não cura suas feridas; ao contrário, lhe rouba a felicidade, lhe colocando num cenário lamentável de angustia, medo, culpa e neurose. Quantos que estão sendo empurrados violentamente para as clínicas psiquiátricas e psicoterápicas? Quantos estão amargando o fracasso financeiro, sentimental e profissional, sem casa, trabalho e dinheiro? E qual o porquê disso? Simples, porque optaram por andar tropegamente pelas vias e rodovias do consumo. Enganando-se que comprar, comprar, comprar seria uma agencia de cura e liberdade...

Como sair dessa espiral de sofrimento mental e psicológico? Como se livrar desses sentimentos que povoam a mente, as emoções depois de um recaída de compras e consumos, tais como: sintomas de ansiedade, depressão, irritabilidade, insônia, mal-estar e uma série de reações clínicas desagradáveis?

Primeiro entender porque se compra da forma que se compra. Ou seja, as pessoas compram por vários motivos: por prazer, necessidade, lazer, passatempo, enfim. Mas nós por quê? Por que compramos dessa forma? A resposta que se tem ao estudar com afinco a mente consumista é a gratificação, ou recompensa psíquica, quero dizer com isso que é a maneira como a interioridade lida com adoecimentos recalcados que gravitam no profundo do nosso inconsciente. Acolho a contribuição de Ana Beatriz mais uma vez: Não me refiro à recompensa de uma forma leviana, como mero luxo, mas em nível cerebral, como um sistema de recompensa que basicamente nos motiva a fazer tudo o que fazemos (Silva-2014). Sem entender isso, de verdade ninguém supera clinicamente esse transtorno.

Daí que entendendo esse quadro psicopatológico, a segunda atitude é lidar efetiva e experimentalmente com a realidade objetiva que alimenta o compulsivo ato de comprar. Essa realidade pode ser traumática, relacional e intrapessoal, se refere a circunstancias, pessoas ou a si mesma e são marcadas por dor, angustia e profundo sofrer.

Entretanto, sem extirpar esse elemento projetivo, essa geratriz possibilitadora esse transtorno continuará vivo e ativo, com o potencial destrutivo de acabar com o todo da sua existência. É óbvio que em muitos casos (e esse pode ser o seu) o trabalho psicoterapêutico, e em casos extremos, medicamentoso deve ser levado em consideração e não pode ser negligenciado.

 Outro elemento importantíssimo é a fé, a crença religiosa, visto que essa pode ajudar sensivelmente na ressignificação ou elaboramento dos valores interiorizados que dão suporte fático para a obsessão. Mais sobretudo; procure ajuda agora, nesse momento, sem desculpas, vá e derrote esse Golias que tem esvaziado sua felicidade e agravando suas decepções. SDG.

 

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