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TENHO TOC? O QUE FAÇO?


Muitas pessoas com certeza já ouviram ou viram em rádios e programas de tvs que lavar as mãos seguidamente, evitar passar em certas calçadas, segurar em corrimões de ônibus, deixar de usar toalha de mão utilizadas por outras pessoas, tocar em trinco de porta de banheiro público, não passar em baixo de escadas, nem em cemitérios ou outras esquisitices da mesma natureza, poderiam ser a manifestação dos sintomas de um transtorno psíquico designado como TOC (transtorno obsessivo compulsivo). O TOC é um distúrbio muito comum, no Brasil este já ultrapassou a escala dos 5 milhões.
                Agora o fato de ser bastante comum, não o torna inofensivo, na verdade o TOC é considerado doença mental grave e de acordo com a OMS está entre as 10 principais causas de incapacidade laboral.

                Retornando aos rituais narrado, tais procedimentos podem sim revelar ou não o TOC, muitos deles revelam apenas crendices oriundas da socialização onde certas crenças e ensinos são passados e incorporados ao patrimônio psicossocial do indivíduo e se exteriorizam em tais comportamentos, como por exemplo, se apavorar diante de uma sandália em borcada porque se aprendeu na infância que tal quadro indicava a morte de alguém querido. Esses ensinos, em sentido natural são superados na fase de absolutização do complexo do Ego, que em termos mais claros é a superação da fase infantil. Entretanto, em algumas pessoas essas crenças perduram e se manifestam recorridamente, no entanto, não possuem papel de relevo clínico, nem tão pouco podem ser diagnosticadas como TOC.

                Nestes casos específicos e materialmente identificados tais práticas podem indicar a presença indesejável do TOC. Isto porque os sintomas que caracterizam o TOC envolvem transformações do comportamento: que fica sensível a rituais, compulsões, repetições; alterações da dinâmica dos pensamentos: ideias invasivas, dúvidas paralisantes, preocupações exageradas, pensamentos impróprios; e modificação das emoções: fobias excruciantes, angústias profundas, desconforta aflitivo, culpa e depressão. Na descrição do Compendio de Psiquiatria Kaplan o TOC é representado por um grupo diverso de sintomas que incluem pensamentos intrusivos, rituais, preocupações e compulsões. Essas obsessões ou compulsões recorrentes causam sofrimento grave à pessoa. Elas consomem tempo e interferem significativamente em sua rotina normal, em seu funcionamento ocupacional, em atividades sociais ou nos relacionamentos. Um indivíduo com TOC pode ter uma obsessão, uma compulsão ou ambos (Kaplan – 2017).

                Daí que os rituais, as compulsões são reflexos consequenciais da invasão da mente pelos conteúdos adoecidos, tais, como: medo de adoecer, de desapontar alguém que se admira, de provocar acidentes ou acontecimentos desagradáveis sobre as pessoas, enfim. Para ser sincero a mente humana é atacada diariamente por milhões desses pensamentos intrusos (obsessivos) eles fazem parte da realidade universal da atividade normal da psique e da mesma forma que surgem desaparecem. A questão é que como vimos em certas pessoas estes pensamentos não evaporam; ao contrário, são interpretados como realidades totalmente possíveis de se materializarem em seu mundo perceptivo, concreto, acarretando um conjunto de sintomas desagradáveis de reação a tal quadro mental. O DSM-V apresenta o seguinte arranjo diagnóstico:

Critérios Diagnósticos
A. Presença de obsessões, compulsões ou ambas:
Obsessões são definidas por (1) e (2):

1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento
durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e indesejados e que, na maioria
dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento.
2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-
-los com algum outro pensamento ou ação.

As compulsões são definidas por (1) e (2):

1. Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex.,
orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em
resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas.
2. Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento
ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou
atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são
claramente excessivos.

Nota: Crianças pequenas podem não ser capazes de enunciar os objetivos desses comportamentos
ou atos mentais. 

B. As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma hora por dia) ou causam
sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou
em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

C. Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância
(p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica.

D. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental (p. ex., preocupações
excessivas, como no transtorno de ansiedade generalizada; preocupação com a aparência,
como no transtorno dismórfico corporal; dificuldade de descartar ou se desfazer de pertences,
como no transtorno de acumulação; arrancar os cabelos, como na tricotilomania [transtorno
de arrancar o cabelo]; beliscar a pele, como no transtorno de escoriação [skin-picking]; estereotipias,
como no transtorno de movimento estereotipado; comportamento alimentar ritualizado,
como nos transtornos alimentares; preocupação com substâncias ou jogo, como nos transtornos
relacionados a substâncias e transtornos aditivos; preocupação com ter uma doença, como no
transtorno de ansiedade de doença; impulsos ou fantasias sexuais, como nos transtornos parafílicos;
impulsos, como nos transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta; ruminações
de culpa, como no transtorno depressivo maior; inserção de pensamento ou preocupações
delirantes, como nos transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos; ou
padrões repetitivos de comportamento, como no transtorno do espectro autista) (DSM-V – 2014).

                De modo que são esses quadros mentais agressivos interpretados realisticamente que são as usinas fabricadoras das obsessões que por seu turno são as retroalimentadoras do TOC como deixa claro o professor de psiquiatria da Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Aristide Cordioli em Seu trabalho literário TOC – Manual de terapia cognitivo-comportamental para o transtorno obsessivo-compulsivo ao sublinhar que a interpretação errônea e catastrófica desses pensamentos aflitivos faz com que intrusões normais se transformem em obsessões, levando a pessoa a agir afastar os maus pensamentos (Cordioli – 2007).

                 Mas, então, o que fazer? Como tratar esse transtorno? Identificar e derrotar tais pensamentos. Porém, como realizar tal façanha? Do ponto de vista da farmacoterapia os medicamentos mais eficazes no combate ao TOC são os antidepressivos, que são eficazes para 50% dos pacientes. Seguindo um arranjo mais voltado para psicoterapia um método que tem funcionado muito na atualidade é o TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) esse procedimento terapêutico parte da premissa conceitual de que crenças e pensamentos incorretos influenciam as emoções e comportamento determinando o surgimento de inúmeros sintomas, entre eles os do TOC.

Por meio do TCC tais ideias distorcidas são corrigidas e os sintomas perdem sua base de alimentação tendendo a gradativamente desaparecer. Segundo Cordioli essas técnicas, introduzidas mais recentemente na abordagem do TOC, complementam a terapia de exposição e prevenção de rituais, constituindo o que  se convencionou chamar de terapia cognitivo-comportamental, pois, as duas modalidades são utilizadas de forma associadas pensamentos (Cordioli – 2007). Outras psicoterapias que tenham como base de lançamento a ADI (Abordagem direta ao inconsciente) também tem apresentado resultados  convincentes. O certo é que dependendo do contexto fático clínico do paciente acometido pelo toque a combinação da farmacoterapia e as psicoterapias de orientação reconstrutivo-comportamental sejam mais idéias e apresentem uma resposta sintomatológica mais eficiente. SDG.

Marcusk Barbosa - Psicanalista Clínico especializado em TCC, Teólogo, Filósofo da cultura e Discípulo de Jesus

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