O título parece esdrúxulo não acham? Que benção pode advir
da perda de uma amizade? Mas pensando mais um pouquinho, até que há um pouco
de sentido. Isto porque a benção vem do
fato de que algumas amizades são essencialmente danosas, para o coração, para o
espírito, para a família, para o próprio indivíduo. Olha, certos amigos fazem de graça a função do Diabo, dos fariseus, de Pilatos...
Esse tipo de amigo que é indiferente a suas vitórias e
fracassos, invejoso de suas bençãos, acusador de seus descaminhos, jogo
duplo, bacia de água gelada, enfim, é uma benção que te abandone (coisa que ele
irá fazer mais cedo ou mais tarde, bom então que seja mais cedo!) visto que este modelo de amizade você
deve ter muita cautela. É como a Lady Melisandre disse:
- Não são os adversários que te amaldiçoam na
cara que deves temer. Mas aqueles que
sorriem quando está olhando e enfiam a faca quando viras as costas.
Sim, repisando, é uma benção raramente bem compreendida (eu
mesmo só estou compreendendo agora) o desenlace de certas amizades, a gente
chora, esperneia, reclama, por ter perdido alguns amigos, ter sido preterido em
algumas amizades, mas realmente é uma benção a ruptura de certos vínculos, de
certas relações. Pois, sem essa ruptura fatalmente não conseguiríamos acelerar
na caminhada humano-espiritual, por estar carregando essas malas sem alças. É sim uma benção se livrar de
interações fortuitas e de raízes rasas, e não falo isso para realçar argumento,
mas pela convicção de que certos amigos são
entraves, contribuem para a experiência da antivida na própria vida e o desejo
de não ser o que se é e torna-se uma versão na própria vida.
É claro que para viver assim é melhor que esse tipo de
amizade vá para o raio que o parta! Certo, reconheço nossa tendência gregária por
vínculos, porém, queremos conexão de verdade, real, para valer, de alto relevo,
para o tudo ou nada, enfim, mas esse tipo de sentimento que hoje se diz que é
amizade, tão precário, superficial, rotativo, fluido...
Por mim pode passar a largo, na verdade ninguém sente falta
disso! Penso que Felipe Pondé está certo quando diz que somos seres cada vez
mais ilhados e com carência, não só de vínculos, mas do desejo de vínculos, o
que é muito pior (Pondé-2015).
Pior que essa merda tem entrado na igreja com a força de uma
tsunami! Quanta falta de amizades de verdade, de gente mais humana, de compaixão
nas relações, de comunhão radical e perene, douradora; não interações escravas
e ao sabor das contingências de tempo, espaço e valores, enfim. Já notou que
tem gente que some, esfumaça da nossa existência
e nós nem sentimos? Bem esse tipo de amigo, “irmão”é uma benção que suma da nossa vista...
Marcusk Barbosa – Psicanalista Clínico, Teólogo, Filósofo da
cultura e Discípulo de Jesus o Nazareno
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