O fato de a depressão ser
considerada pela OMS uma pandemia tornou-se para muitos um pretexto para se
colocar a depressão como um clichê explicativo, elucidador para uma condição psicossociocultural
de nossa geração, ou seja, para uma multidão considerada de pessoas, quase tudo
é depressão. Esse tipo de entendimento acaba confundindo grosseiramente o quadro
clínico da depressão com tristeza ou reação emocional comum (e em alguns casos
até necessária) diante de conjunturas extremas como: desastres, luto, abusos,
enfim. É como escreveu em seu livro Depressão
& doença nervosa moderna, a professora, psicanalista e doutora em
Psicologia Maria Silvia Bolguese: “Hoje em dia, quase tudo é depressão. A síndrome
foi convertida em uma maneira de explicar o homem moderno. Confunde-se, porém,
o quadro depressivo clinicamente verificável com manifestações comuns de qualquer
sujeito diante de situações adversas” (Bolguese – 2018).
Qual a dificuldade com
isso? Esse processo de banalização da depressão acaba formando uma película impermeável
encobridora dos reais sintomas (sintomatologia) da síndrome depressiva que é
uma psicopatologia grave e perigosa. Na verdade, muitos que dizem que estão
vivendo um transtorno depressivo, nada mais estão sofrendo do que uma atitude
reativa as demandas e exigências de uma sociedade de consumo, sucesso e desejo.
Uma reação psicológica de voracidade estética e experimental que nunca se
satisfaz, sempre em busca da “felicidade total” que nunca vem; ao contrário, o
que produz é uma mutação desse homem para uma coisa tipo kfikaniana, um sujeito
alienado, dominado, enredado em uma condição existencial circular de prazer/felicidade
verso angustia/insatisfação.
Na prática, o que esse
estado psíquico gera? Tristeza, melancolia, culpa e infelicidade crônica. Daí
fica fácil deslocar essa realidade produzida para a categoria nosográfica (classificação
de doenças) de depressão como uma bolha protetora que retire a responsabilidade
de assinar o ato, de reconhecer os descaminhos e refazer a caminhada, a rota,
entendem? Pense nisto!!!SDG.
Dr
Marcus King Barbosa – Psicanalista
Clínico, Psicoterapeuta Integratista, Filósofo, Neuropsicólogo e Fundador da
Terapia Ressignificativa
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