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Entendo um pouco a autoestima

 

Quem não quer ter uma boa visão de si mesmo? Acredito que todos nós. Na verdade, todos nascemos com um narcisismo primário que nos remete ao amor por nós mesmos, que por sinal é imensuravelmente fundamental para a nossa constituição como sujeitos autobiográficos.

Esse narcisismo elementar de onde brota a nossa autoestima, foi concebido como um dos conceitos mais importante da teoria freudiana. É apresentado como o fator transitivo da passagem do autoerotismo, do prazer centrado no próprio corpo (sôma) para a busca de prazer (libido) em outro objeto distinto de si. O problema é quando esse narcisismo não se dissipa progredindo para um narcisismo secundário ou residual que pode ser entendido como uma identificação indevida vivida na infância e identificada em um simbolismo obsessivo, como destacou a psicanalista Maria Laurinda Ribeira de Souza: A ilusão infantil de que o mundo gira em nosso redor é decisiva nessa fase, mas para o desenvolvimento saudável é necessário que se dissipe, conforme deparamos com frustrações e descobrimos que não ser o centro do universo tem suas vantagens. Afinal, ser “tudo” para alguém é um fardo pesado demais para qualquer pessoa (Souza – 2005).

Daí que, ter autoestima é uma forma necessária de empoderamento das estruturas da psique, pois, é dessa fonte que goteja nossa sensação de bem-estar. Entretanto, vivenciar a autoestima não é algo tão fácil, visto que não basta sermos inteligentes, bonitos, descolados, socialmente festejados, enfim, é importante reconhecer essas qualidades num contexto de profunda relação consigo mesmo e se apropriar dessa realidade. Aqui temos um certo problema com isso, e qual seria? É que nos falta a capacidade qualificada de mensurar o quanto alguém se gosta no sentido em que, se necessitar, se possa fazer uma avaliação clínica, evitando as zonas nebulosas das psicopatologias.

Retomando o fluxo é vital nessa abordagem da autoestima perceber que aquilo que a retroalimenta, a saber o sentimento por nós mesmos, é mais subjetivo-emocional do que racionalista, ele se estende numa teia de experimentação acumulativas: hereditarismo, complexos familiares, traumas, rejeições, enfim, o tal sentimento de camaleão. Falando sobre esse aspecto progressivo autoestima pontificou o professor da Faculdade de Psiquiatria de Milão Dr. Willy Pasini: Assim como o animal que altera sua cor, mas não a pele, a autoestima pode modificar ao longo da vida, influenciada por sucessos e fracassos, pelo que decidimos e encontramos, mas principalmente pela forma que elaboramos cada experiência; entretanto, sua estrutura básica permanece imutável (Pasini – 2011).

Aqui conseguimos discernir plenamente que a autoestima é a construção que alguém faz do seu próprio valor. É a percepção aguda de si mesmo. E nesses tempos turbulentos de mídias sociais muito mais.  E por quê? Porque elas podem funcionar como um elemento quantificador, mesmo que todos saibam que ser popular não significa ser nem aceito, nem tão pouco feliz. Sobre isso comentou Maria Laurinda Ribeira de Souza: Em O Mal-estar na civilização, de 1930, Freud diz que um dos grandes obstáculos do homem em sua busca pela felicidade, e que lhe traz maiores dificuldades, é o sofrimento resultante das relações humanas, pois, elas nos colocam em confronto com aquilo que, não sendo espelho, nos solicita novos posicionamentos (Souza – 2005). Note que a importância da mídia social é tão real no caso da autoestima que numa pesquisa, as fotos do Facebook, editadas pelos participantes da pesquisa, comentadas pelos amigos e conhecidos, estimularam a autoestima, mas do que a visão da própria imagem no espelho. Entenderam pais? Sabe o porquê essa reação? É que, a rigor, a imagem refletida no espelho não faz jus ao ideal que o adolescente tem de si mesmo. Mas as redes sociais possibilitam que essa imagem pessoal seja “melhorada” mais próxima da idealização o máximo possível. E isso tanto na aparência como nas relações.

 Bem, no fundo essa busca de autoafirmação como conectivo para autoestima pode apresentar algum grau de risco, já que, para se sentirem aceitas e reconhecidas as pessoas podem se expor a situações minimamente constrangedoras, quando não perigosas. Seja responsável pela própria felicidade.

Portanto, você é totalmente responsável pela forma como você se percebe, se aceita ou não! Tenha clareza disso. A autoestima é uma construção que demanda nossa posição protagonista. Você tem em sua autodeterminação o condão de viver uma vida de aceitação paz emocional e felicidade relacional. Então seja, feliz e se ame. SDG.

 

Dr. Marcus King Barbosa – Psicanalista Clínico, Psicoterapeuta Integralista, Filósofo, Teólogo existencial e Pastor

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