<Não importa o que fizeram com você. O que
importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você>J.P.Sartre.
O enunciado do pensamento existencialista de
Sartre deixa claro que a questão não é o que fizeram da gente, porque sempre
irão fazer, mas qual nossa escolha diante do que se nos apresenta como
realidade de existência.
Esse pensamento tem
implicações profundas e intricadas. Penso ser terapêutico extrair algumas
dessas implicações. A primeira delas é
que a vida humana é sublinhada
indelevelmente por conflitos, neuroses. Viver é altamente neurótico. E
esses conflitos não tem sua gênesi na relação dual eu/tu, mas é bem mais
anterior, no conflito eu/eu. Quero afirmar com isso a tese de que o conflito
interpessoal é gerado, no mais das vezes, na conflitualidade subjetiva, na
arena, no prélio dos embates: ego x
superego. Ou seja, minha autoconsciência lutando contra toda o patrimônio coercitivo
fiscalizador, impositivo de domínio e obediência estabelecidos pelo superego: as
regras autoritativas da família – a lei-do-Pai, a hereditariedade, os complexos
e estereótipos relacionais, os sistemas autômatos ou apreendido de crenças e pressupostos,
enfim. Isso combina para na interpessoalidade criar todo esse ambiente belicoso
e conflitivo que vemos em nossa sociedade e se exteriorizam nas nossas leituras
de realidade, diferença de temperamento, biografias, enfim.
A segunda implicação terapêutica
desse pensamento existencialista é que em certos conflitos nós somos
profundamente machucados, feridos e magoados. Há tensões que nos atingem
com uma força avassaladora. Há seres que entram em nossas existências apenas
para quebra-la, para nos ferir com força descomunal. Fato que temos de gestar
conflitos com o poder de alterar o todo de nosso existir, e de maneira excessivamente
negativa. De fato, se formos sinceros, existem mágoas que em tantos já se
tornaram amargura crônica.
A terceira implicação terapêutica
desse pensamento existencialista é não importa o que o conflito fez em você, em
seu coração, sua mente, em sua consciência, alma, enfim, nós devemos superá-la
e vencer em caráter absolutamente propositiva. Ou seja, temos que criativamente
fazer do trauma, do abuso, dos preconceitos uma via afirmativa de
trans-mudação. É necessário transcender o ambiente experimental e histórico de
conflito e transforma-lo em agente transverso de progressão de nossa caminha
existencial.
Então somos não o que
fizeram em nós, mas no que estamos nos formatando apesar; e, sobretudo, do que
fizeram contra nós. Portanto, todo conflito por mais assustador e doloroso que
se apresente possibilita uma enorme oportunidade de crescimento e maturidade. Pense
nisto. SDG.
Dr. Prof. Marcus king
Barbosa - Psicanalista clínico, Psicoterapeuta integratista
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