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Todo relacionamento precisa de dependencia e independência

 

Relacionar-se não é só um privilégio como decisivamente um elemento integrante e vital do ser humano. Isso porque o humano, enquanto o ser-em-si carece do seu correspondente, do seu igual. Ou seja, o ser para ser precisa ser no outro. É como disse Martim Buber (Buber-2006) que a união e a fusão em um ser total não pode ser realizada por mim e nem pode ser efetivada sem mim. O Eu se realiza na relação com o Tu; é tornando Eu que digo Tu. Toda vida atual é encontro. Esse encontro, o existir-no-outro é a base do fenômeno dialógico que elucida qualquer coisa que possamos dizer sobre humanismo, humano, humanidade...

Vencida essa preliminar é imprescindível atacar o mérito do que é essa dependencia/independência nas relações. E de imediato afirmamos que toda relação precisa dessa variável para ser uma equação possível. Todo relacionamento impõe essa dualidade de dependencia e independência. Entretanto, é importante deslindar esses dois conceitos; isto é, o que esse depender e independer equivalem? Qual seu significado? Dependencia e independência aqui é o mesmo que a interpessoalidade e a intrapessoalidade, tem a ver com as dimensões da separação e união, do estar junto, mas também separados, do limite de ser no conviver, enfim. Toda relação humana, notadamente as mais íntimas e essenciais precisam de imanência e transcendência. União e separação.

Quero dizer com isso que toda conexão só é possível, ou melhor efetiva se lidarmos com o humano-com em sua integralidade e plenitude. Não é um caminho certo, nem rota viável um relacionamento onde seus proponentes não são seres inteiros, integrais; mas ao contrário, seccionados, divididos, fragmentados. Sou crítico da metáfora muito comum em cerimonias de casamento que diz ser o homem e a mulher duas metades que se juntam. Dois pedaços para fazer o inteiro. Nada disso, a relação é a conjunção de dois seres inteiros decidindo em diálogo e cumplicidade serem um. Isso é a base de toda intimidade genuína.

Agora é óbvio que falando paradoxalmente da independência, da transcedencia do ser numa relação não estou no mesmo fôlego asseverando a anulação ou pulverização da dimensão do interpessoal, da interface e do interativo que são o outro fundamento do relacionamento. Já deixei claro aqui que o relacionar depende de ambos para ser o que se afirma ser ou então temos apenas um simulacro. Não é autentica uma relação onde não há reciprocidade, diálogo, intimidade, troca de afeto, comunhão, limite, respeito e diferença. Talvez nisto tenhamos a solução de tantos descompassos nos relacionamentos, tanta ruptura, separações e divórcios.

Verdade é que precisamos de equilíbrio, de sincronia em imanência e transcedencia nas nossas interações, sem os quais teremos sufocamento ou indiferença ambos fatais para qualquer relação. Desse modo dá para perceber a clara verdade da necessidade urgente de termos independência e dependencia em nossos relacionamentos, se queremos que ele realmente dure. E seu relacionamento tem isso? SDG.

 

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