A sabedoria (sophía, ḥokmâ) sempre foi uma virtude extremamente destacada pela Palavra de Deus. No velho testamento ela era vista como uma personificação eterna (Pv 8.22-30). Note que Salomão compreendeu sua necessidade e pediu a Deus que lhe desse (1 Rs 3.4-10). Além disso, a sabedoria é qualificada como um princípio que deve ser buscado com todo a presteza e dedicação (Pv 4.7-10). Comentando essa passagem destacou Bruce K. Waltke: Deus instrui as pessoas a buscarem o bem dos outros, não de si mesmas, mas, no lugar desse ensino, os seres humanos colocam a própria sabedoria para satisfazer a si mesmos (Waltke - 2011, p.349).
Bem,
o entendimento por de traz dessa crucialidade da sabedoria era que não bastava
ser inteligente era preciso se ter sabedoria para tornar todo esse saber
prático e efetivo no sentido concreto. Aristóteles fazia essa distinção entre
um conhecimento teórico e abstrato, e um saber (phronesis) de
natureza prática relacionado com a capacidade de tomar decisões concretas e
agir de forma adequada em situações concretas da vida cotidiana. Tratando dessa
distinção entre inteligência e sabedoria afirmou Warren Wiersbe: Todo mundo
já encontrou um indivíduo extremamente inteligente, talvez quase um gênio, mas
que, no entanto, não consegue realizar algumas tarefas mais simples da vida
(Wiersbe-2022, p.468).
No
novo testamento a importância da sabedoria cresce vertiginosamente. Primeiro
porque ela é personificada em Jesus como sabedoria divina: 24 Mas, para
os que foram chamados para a salvação, tanto judeus como gentios, Cristo é o
poder de Deus e a sabedoria de Deus (...) 30 Foi por iniciativa de Deus que
vocês estão em Cristo Jesus, que se tornou a sabedoria de Deus em nosso favor,
nos declarou justos diante de Deus, nos santificou e nos libertou do pecado.(1
Co 1.30; Cl 2.2-3). Na verdade, a sabedoria evolui, se diferencia sendo
dividida entre sabedoria humana e sabedoria espiritual que é a incorporação
desse saber divino em Cristo pelo Espírito. Em sua carta Tiago deixa claro
tanto a prioridade da sabedoria espiritual para a vida-no-mundo como
testemunhas como entre a própria comunidade, de tal forma que quem percebe-se
que não a possuía deveria com fé pedir a Deus (Tg 1.2-8). Avançado mais um
pouco em sublinhar a carência da sabedoria ele adverte que o mestre cristão não
poderia desenvolver adequadamente o seu ministério sem essa sabedoria
espiritual (Tg 3.1,13).
Entretanto, como saber
se a sabedoria que temos não é uma sabedoria espiritual, mas tão somente
humana? Os crentes coríntios cometeram esse erro (1 Co 1.17-22) como nos
isentarmos dele? Como sabermos distinguir uma sabedoria da outra? Sobre isso
desafiou Hernandes Dias Lopes: Há uma sabedoria que
vem do alto e outra que vem da terra. Há uma sabedoria que vem de Deus e outra
engendrada pelo próprio homem (Lopes - 2006, p.72). Tiago
também tinha essa preocupação e estabeleceu uma distinção, uma maneira de
discriminarmos essas sabedorias. Ou seja, essas sabedorias são diferenciadas
pela sua origem, uma é celestial, outra terrena, uma vem de Deus outra é
humana: “15
Esta sabedoria não desce do alto, mas é terrena, sensual e Diabólica (...) 17, Mas a sabedoria que vem do alto
(...)” (Tg 3.15,17a). Em
segundo lugar essas sabedorias são divididas por seus efeitos.
Elas produzem efeitos contrários nos corações e no comportamento: “14
Mas, se tendes uma amarga inveja, e contenda em vossos corações, não vos
glorieis, nem mintais contra a verdade (...) 16 Porque onde há inveja e
contenda, aí há confusão e toda a obra do mal. 17
Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente pura, depois pacífica, gentil,
e fácil de ser invocada, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem
parcialidade, e sem hipocrisia” (Tg 3.14,16-17).
Segundo
Douglas J. Moo: Neste versículo, Tiago justifica seu severo veredicto
pronunciado sobre a falsa sabedoria, ao descrever os efeitos que ela produz (Moo
– 2008, p.133).
De fato, esses contrastes
são uma forma pedagógica que Tiago empreendeu para ajudar a comunidade
espiritual a saber separar uma sabedoria da outra. A sabedoria humana com suas
características, a saber: terrena, natural e demoníaca (epígeius,
psychikê, daimoniwdês). Por seu turno, a sabedoria do alto e suas qualidades
(anwthen), tais como fruto do Espírito, imparcialidade e autenticidade
(karpos tou pneúmatós, adiákritos, anypókritos).
Daí, essa sabedoria que
desce do trono da graça como dádiva (Tg 1.17) e é masterizada em nosso viver
como discípulo nas nossas comunidades como encontros de mutualidades através de
nosso compromisso e submissão ao poder da Palavra princípio deve ser uma
realidade incontestável formatando o nosso novo ser em Cristo e os
desdobramentos da salvação. Pense nisto. SDG.
Rev. Marcus King Barbosa
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