A série da HBO Games of Thrones na sua
8º temporada está sensacional, superando fácil as expectativas dos fãs e das
próprias temporadas passadas. Porém, o que tem me despertado a reflexão são os
abundantes acertos de pendências relacionais que saturaram esses
dois primeiros episódios: Theon Greyjoy e sua irmã Yara, Sir Jamie Lanister e
Bran Stark, Theon e Sansa Stark,enfim.
Não é novidade que um dos motores do
sucesso esplendoroso dessa supersérie é a competência com que trabalha no
subterrâneo da trama temas existenciais de grande monta e apelo universal:
xenofobia, traição, preconceito, violência, erotismo, perversão, enfim. Dessa
feita o tema de fundo, transversal abordado nesses primeiros episódios que
despertou minha atenção (por sua proximidade gritante com um tópico importante
do sistema de valor do Evangelho de Jesus que é o arrependimento) foi o
confronto com os desdobramentos da má escolha e o devido ajuste das
dívidas advinda dela. O filósofo Martin Buber já advertiu que temos de
administrar o mal-encontro (schlechtes treffen). E esse ajustes de contas que
fazemos na nossa caminhada é uma das maneiras de gestar o mal encontro que pode
ser mal tão somente por nossa causa, não necessariamente do outro.
A verdade que não se cala é que nossa
jornada terrena não se dá isenta de dividas relacionais e pendências
existenciais. Triste mais uma realidade inapelável. Tão densa e historicamente
saturadora que o próprio Jesus deu papel de relevo. Quando? Na
ocasião do seminário sobre oração quando enunciou a oração referencial aos
discípulos (Mt 6.5-13). Nesta afirma Jesus explicitamente que contraímos
dívidas nas nossas relações e isso posto na categoria de axioma universal, pelo
menos para os falantes: 12 Perdoa-nos as nossas dívidas,assim como perdoamos
aos nossos devedores. (v-12).
Então a questão não é se
temos ou não dívidas em nossos encontros existenciais, essa preliminar já foi
superada, mas nossa capacidade (ou não) de reconhecermos essa situação
inadimplente e saldarmos a dívida. Algo nesse dois episódios, destacadamente o
segundo inacreditavelmente explicitado num realismo que chega constranger, como
a desconfortante imagem de pedido de perdão de Sir James o regicida, a Bran
Stark, o corvo de três olhos!
Bem fazendo a ponte para nós, a
realidade circundante à série, quantos que abarrotam os templos,
mas que nunca encararam seriamente suas pendências e dividas
relacionais muitas tão sutis, quase indisfarçáveis, mas nem por isso esvaída de
seu alto potencial destrutivo?
Notaram a correria para adorar nos
inúmeros e diversificados cultos, porém, na sua grande maioria esses corredores
ansiosos e suados ignoram deliberadamente o saldo devedor que só
cresce nas suas relações? O problema é que semelhantemente como em nossa vida
financeira, o acumulo desses débitos causam prejuízos imensuráveis, a diferença
é que esse tipo de dívida traz prejuízos na alma, no coração, na psique, no
ministério, na família, no casamento (alguns irreparáveis), pior é que segundo
Cristo essas pendências não solucionadas podem e (irão) interferir
sensivelmente em nossa adoração (Mt 5.23-26). Pense Nisto! SDG
Marcus Barbosa – Psicanalista Clínico,
Teólogo, Filósofo da cultura e Discípulo de Jesus
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