Ministério de profeta é um dos dons que Cristo em sua
ascensão messiânico presenteou a Igreja. O ministério dos profetas, assim como
os demais, foi dado para o crescimento e construção do corpo místico de Cristo
– a Igreja. Por meio dele a comunidade espiritual é amadurecida e se expande
organicamente (Ef 4.7-16). Mas o que é o ministério de profetas no novo
testamento? O ministério profético é o
dom ministerial de receber de forma imediata a Palavra de Deus e proclamar e
exortar a Igreja de Cristo. Esse tipo de profetismo, como veremos não
consiste em um oficio, mas sim um ministério.
O profetismo do Antigo Testamento
Na antiga aliança os profetas (Rô’eh, hôzen, navi) eram indivíduos vocacionados por Deus para
agirem como seus embaixadores, falando e atuando em seu lugar como porta-vozes
de sua vontade e revelação. A Enciclopédia de HistóricoTeológica da Igreja Cristã assevera que: “ O profeta, portanto, é aqueles que fala
antes no sentido de proclamar, ou aquele que fala por ”.
Desse modo, fica mais que explicito que o profeta era alguém
imbuída da autoridade divina para contribui na construção de sua comunidade.
Sua proclamação era saturada do poder e autoritarismo divino (Ez 2.7; Is 6.1,9;
Gn 20.6-7). Essa perspectiva pode ser ilustrada na vocação do profeta Jeremias:
4
A Palavra de Yahweh chegou a mim com a seguinte convocação (...)9 Então o
SENHOR estendeu a mão, tocou a minha boca e declarou-me: “Eis que a partir de
agora coloco as minhas palavras em tua boca! (Jr 1.4,9). A expressão da revelação é clarividente
quanto ao poder da palavra divina – vay’hid’bar YHWH: atingiu-me o
Senhor!
Essa natureza do profetismo presente no contexto da
antiga aliança não permaneceu indefinidamente, mas encontrou seu limite na
transição dispensacional da nova aliança, dos últimos dias conectado, é claro à
presença (parousia) de Cristo, o
profeta (Dt 18.15; Jo 6.14; At 3.22). Mateus enuncia essa transição: 16 A Lei e os Profetas profetizaram até João.
Dessa época em diante estão sendo pregadas as Boas Novas do Reino de Deus, e
todos tentam conquistar sua entrada no Reino. 17 Contudo, é mais fácil os céus
e a terra desaparecerem do que cair um traço da menor letra de toda a Lei (Lc 16.16). Na carta aos hebreus essa perspectiva de
termino da dispensação profética do antigo testamento em função da manifestação
do aparecimento do messias como o portador da vida espiritual que enceta a nova
era redimida (olam habá) é gritante:
1
Havendo Deus, desde a antiguidade, falado, em várias ocasiões e de muitas
formas, aos nossos pais, por intermédio dos profetas, 2 nestes últimos tempos,
nos falou mediante seu Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo o que existe e
por meio de quem criou o Universo. (Hb
1.1-2).
Aqui o autor declara que o falar presente de maneira multidimensional
(polymerws) e diversa (polytrópws), adquiriu seu apogeu no
falar profético de Jesus, o uso da expressão verbal elalêsen - falou deixa pouco espaço para
dúvidas, visto que é um tempo grego (aoristo) que denota completude, termino
por plena realização. Ou seja, em Jesus o falar profético recebeu seu contorno
definitivo, pleno. Dessa forma, o oficio profético antigo testamentário não se
prolongou para o universo do novo testamento. Essa compreensão é decisiva para
discernimento adequado do que a Escritura quer comunica sobre o ministério
profético na realidade neotestamentária que se baseia no dom profético e não
ofício profético.
O profetismo do Novo Testamento
Quando encaramos a condição do profetismo na nova
aliança é preciso se reconhecer que em relação aos personagens – os profetas, o
oficio deixou de existir cedendo lugar ao colegiado apostólico. Estes são na
nova dispensação pactual da nova aliança os embaixadores de Cristo, seus
porta-vozes. Paulo estabelece esse recorte ao colocar os apóstolos numa
condição superior em relação ao ministério profético que foi colocada em
segundo lugar na edificação da igreja fundada em Jesus: 20
edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio
Cristo Jesus a principal pedra angular desse alicerce (Ef 2.20).
Daí que os profetas no novo testamento estão em
subordinação aos apóstolos originais na dinâmica de construção da comunidade de
Cristo a provisão de edificar (epoikodomêthéntes:
particípio aoristo) sobre o fundamento (themélios)
que é Cristo. Essa edificação é colocada no texto em comento como um efeito já
consumado (aoristo) pelos apóstolos e profetas originais que enceta uma condição
processual e desdobramentos (particípio grego) na realidade dinâmica da igreja que
os profetas na atualidade acabam trabalhando.
Apóstolos e Profetas originais
Quero dizer com isso, portanto, que os profetas e os
apóstolos foram os proponentes de uma edificação completa que iria fluir na
vida da igreja com suas implicações práticas e experimentais. Dito de outra
forma, o profeta dá atualidade não edifica em sentido original, isso já foi
feito, mas edifica por derivação do material espiritual já estabelecido pelos
profetas e apóstolos originais em seu tempo e ministérios. Assenta essa
interpretação J. Rodman Williams na sua Teologia
Sistemática em Perspectiva Pentecostal: Nesse
sentido, os profetas cumpriram sua tarefa
- exatamente como os apóstolos originais – e não continuam mais como
figuras na vida da igreja
(Williams – 2011).
Então quem são os profetas elencado pelos apóstolos
dos gentios em sua listagem ministerial? Estes eram aqueles que recebiam o dom
profético para de maneira imediata mediarem a Revelação e a partir dela, proclamarem,
exortarem e anunciarem o juízo divino sobre a comunidade espiritual de
Jesus (1 Co 14.3,24-25). Seguindo esse diapasão Helmut Krämer em seu Theological Dictionary of the New Testament
afirma: profeta expressava a função
formal de declarar, proclamar, tornar conhecida a vontade de Deus para a igreja
(Krämer – 1975). Ou seja, o profeta neotestamentário recebe uma percepção da
revelação divina que desnudava o escondido e camuflado fornecendo a comunidade
um tremendo antecedente de visão que propiciava admoestação, exortação, ânimo,
enfim. Seu ministério consiste em proclamar e interpretar a Palavra de Deus as
variadas conjunturas e circunstâncias no trajeto da comunidade local. Indo além
esses profetas aconselhavam e enunciava os juízos retributivos de Deus contra o
pecado e a injustiça pessoal e social em tempos de apostasia e desníveis espirituais.
Por conta disso, o seu ministério não escapa da perseguição e rejeição tal qual
os profetas do passado (Jr 38.4-6; Mt 23.29-36; 2 Tm 3.12; 4.3-4).
Segundo Paulo o profetismo a partir da realidade
dinâmica da nova aliança tinha alguns objetivos ministeriais. De fato, os dons ministeriais
elencados , em seu conjunto se propunham a objetivos e propósitos bem claros e
definidos e que poderiam ser resumidos em maturidade
e plena edificação do corpo mítico de Jesus, sua igreja. O Comentário Pentecostal
do Novo Testamento destaca isso: “O
propósito mais elevado que Cristo deu aos líderes do quíntuplo ministério, em
relação à Igreja, foi o de levar o corpo de Cristo a alcançar a plena
maturidade”. Esses propósitos pode ser didaticamente escalados ou
realçados (Ef 4.11-16):
a) –
Aperfeiçoamento dos santos (v-12);
b) - Capacitação dos vocacional (12b);
c) - Edificação do Corpo de Cristo (12c);
d) – Maturidade e
crescimento cristocentrico (v-13-14).
Discernindo o verdadeiro profeta do falso
Desde a antiga aliança a possibilidade de ser
falsificado o oficio profético era sempre muito presente tanto que os cultores
bíblicos criaram mecanismos que estabeleciam certos vetores que apontavam para indícios
de uma fraude no exercício ministerial do profeta. Na realidade da nova aliança
isso não mudou; ao contrário, segundo Cristo a possibilidade ficou mais
plausível. Na verdade, um dos indicativos da grande apostasia seria o falso
profetismo. Quais os elementos que apontam para um falso profeta? O que indica
que sua reivindicação é fraudulenta e deletéria para a igreja? A bíblia nos dá
alguns princípios:
a) – A impostura
da profecia a medida que profetiza e não se realiza (Dt 18.20-22);
b) A corrupção
espiritual e idólatra mesmo acontecendo o que fora predito (Dt 13.1-3);
c) Promiscuidade
e infidelidade (Jr 23.11,13);
d) – Porta-vozes
de espíritos demoníacos (Jr 23.13);
e) – Corrupção e
tolerância a injustiça social (Jr 23.14);
f) – Desvios ministeriais
e comunitários da palavra de Deus (jr 23.16-17,21-22)
g) - Ministério
mentiroso e fisiológico (Jr 23.25-30,33);
h) - Falta do fruto do Espírito (Mt 7.17-18; Gl
5.22-25).
O que fazer diante desse falso profetismo que invadem
como feras famintas as igrejas? Segundo a palavra não devemos ouvi-los, nem os
temer, mas nos resguardarmos de sua influência, obras e pedagogia nefastas e
nefandas (Dt 13.3; Jr 23.16; Mt 7.15 = proséxete:
ter cuidado, cautela) sabendo que Deus irá trata-los no devido tempo com rigor
e justiça (Jr 23.12,15,19-20,30; Dt 18.20; Mt 7.19).
Pr. Marcus King Barbosa
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