O enchimento ou plenitude do Espírito é o resultado direto, experimental e revestidora da presença controladora do Espírito Santo em nosso viver. Quero dizer com isso que como consequência do batismo com o Espírito a vida do discípulo começa a ser alterada de modo global, integral e relacional. Por conta, do enchimento, da plenitude nossos pensamentos, reações, sentimentos e relacionamentos são modificados ajustados ao padrão do reino. Augustus Nicodemus Lopes acentuou essa transformação do viver produto do enchimento do Espírito: Ser cheio do Espírito é estar debaixo do seu controle de tal maneira que todo viver seja influenciado por ele, evidentemente, o resultado imediato de uma vida controlada pelo Espírito será santidade (Lopes – 1998). Seguindo esse diapasão hermenêutico destacou Craig S. Keener:
Seja
lá o que mais Paulo queira transmitir a respeito da vida cheia do Espírito, o
que ele diz é que ela afeta o modo como vivemos. Enquanto Atos enfatiza
especificamente que o Espírito nos capacita para o evangelismo, Paulo afirma
que o Espírito nos capacita para a adoração e para os relacionamentos com
outros (Keener – 2018).
De
fato, a plenitude (plêróõ) do Espírito interfere, redefine radicalmente
nossa existência. Ser cheio do Espírito nos concede a coragem, a motivação e a
direção necessária para cumprir nossa missão: “7 Jesus respondeu: — Não
cabe a vocês conhecer tempos ou épocas que o Pai fixou pela sua própria
autoridade. 8 Mas vocês receberão poder, ao descer sobre vocês o Espírito
Santo, e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e
Samaria e até os confins da terra.” (At 1.8). A concreção desse
profundo revestimento espiritual prometido por Jesus se deu alguns dias depois
e foi algo tão extraordinário que modificou definitivamente aquele grupo de discípulos
temerosos (At 2.1-41). Sobre essa característica fundamental do enchimento do
Espírito no viver dos discípulos de Cristo afirmou Warren W. Wiersbe: Ao encher a pessoa, o Espírito lhe dá
poder para testemunhar e servir (Wiersbe – 2021).
De
sorte que o enchimento do Espírito é capital para nos dá direção e autoridade
em momentos cruciais de tensão onde somos desafiados quanto a mantermos firmes
nossa mensagem (querigma) e o compromisso ético com os ensinos e a obra de Jesus:
“29 Agora, pois, ó Senhor, considera as ameaças deles e capacita os teus servos
para proclamarem a tua Palavra com toda a intrepidez. 30 Estende a tua mão para
curar e realizar sinais e maravilhas por meio do Nome do teu Santo Servo Jesus!”
31 E assim que terminaram de orar, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos
ficaram plenos do Espírito Santo e, com toda a coragem saíram anunciando a
Palavra de Deus.” (At 4.29-31). O Próprio Jesus em seu ministério
tereno precisou desse enchimento para vencer as artimanhas de Satã em um breve
momento de provação (Lc 4.1-13). Comentando esse texto Hernandes Dias Lopes
enfatizou a função direcionadora do Espírito Santo no ministério de Jesus:
Jesus
foi concebido pelo Espírito Santo (1.35), recebeu o Espírito Santo no rio
Jordão por ocasião de seu batismo (3.22) e, agora, cheio do Espírito Santo, é
conduzido pelo mesmo Espírito ao deserto (4.1). Não foi o diabo quem arrastou
Jesus para o deserto; foi o Espírito Santo quem levou (Mt 4.1) e impeliu (Mc
1.12) Jesus para o deserto.” (Hernandes – 2021).
Daí
então preciso compreender que a plenitude do Espírito é decisiva para que
possamos viver uma existência marcada pela sabedoria espiritual (spiritual
wisdom). Essa forma de existir capacita o discípulo a aproveitar
plenamente as oportunidades que lhe são facultadas pela divina providência. Não
apenas isso o enchimento do Espírito como atuação de Deus modifica, altera e
ajusta nosso viver, nossas relações por meio do princípio teológico da sujeição
espiritual (hypostassómenoi alêlois): “18 Não se embriaguem
com vinho, pois ele os levará ao descontrole.16 Em vez disso, sejam cheios do
Espírito, 19 cantando salmos, hinos e cânticos espirituais entre si e louvando
o Senhor de coração com música. 20 Por tudo deem graças a Deus, o Pai, em nome
de nosso Senhor Jesus Cristo. 21Sujeitem-se uns aos outros por temor a Cristo.”
(Ef 5.18-21). Comentando sobre a ingerência do Espírito controlando nossa existência
e conexões disparou N. T. Wright: Se você quer comemorar – e por quê não? -
, então sabe o que fazer. Deixe o Espírito encher seu coração e sua vida,
particularmente sua mente e sua imaginação (Wright – 2020). Essa agenciação
do Espírito é a efetivação de sua atuação como protagonista executivo do ethos da
nova aliança onde uma nova relação com Deus seria vivenciada (Ez 36.26-27). Sobre
essa profunda alteração matricial que o Espírito proporcionaria e que na
tradução do novo testamento assume feição tanto do novo nascimento como a
plenitude do Espírito proveniente do batismo com o Espírito na dimensão do
revestimento e guia escreveu Daniel Block:
A
presente solução é mais radical até mesmo do que a circuncisão do coração,
prescrita por Dt 30.6-8. A única resposta é a remoção do órgão petrificado e
sua substituição por um coração de carne (bãsãr) afetuoso, sensível e
responsivo. Concomitantemente com o transplante de coração, Yahweh vai encher
seu povo com um novo espírito, o seu Espírito (Block-2012).
Dessa forma,
essa plenitude que o Espírito realiza em nós, que consiste teologicamente de um
controle efetivo e sistemático da nossa vida é algo absolutamente necessário, o
que nos ensina de forma muito efetiva que devemos buscá-la com empenho. Paulo
inclusive coloca essa busca como algo imperativo, não opcional ou sugestivo,
tanto que ele usa o verbo grego (plêroûsthe) num tempo imperativo
presente deixando claro que ser pleno, cheio do Espírito Santo é um imperativo divino
que devemos estar totalmente comprometidos, portanto, sejamos cheios agora, constantemente.
SDG.
Rev.
Marcus King Barbosa
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