A salvação foi algo que Jesus conquistou na cruz como parte de um plano pactual chamado aliança da Redenção. Esse salvação do ponto de vista histórico envolve um arranjo temporal que envolve passado, presente e futuro. Além disso, a salvação apenas pode ser algo experimental se houver a ingerência do Espírito Santo como agente executivo dentro da trindade econômica. Paulo vai tratar desses caminhos experimentais da salvação realizados pelo Espírito no capítulo 8 de sua carta aos romanos. Ali ele apresenta a dinâmica do Espírito nos processos da Redenção na vida do pecador arrependido desde seu limiar até sua consumação.
Espírito nos dá vida tirando de nós o poder e o controle da
morte e nos colocando na trilha do novo ser (vs- 1-2,4)
O primeiro
ato executivo do CEO da nova aliança foi inserir um quantum de vida espiritual
(zõês) na alma do pecado morto e alienado de si e de Deus (Ef
2.1-3). Paulo designa essa dotação de vida de lei do Espírito (nómos toû
pneúmatos tês zõês). Esse é um princípio de vida explosivo que o
Espírito inseri em no ser fazendo com que ele ressuscite espiritualmente: “Agora,
portanto, já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus. 2 Pois
em Cristo Jesus a lei do Espírito que dá vida os libertou da lei do pecado, que
leva à morte” (Rm 8.1-2). Essa ressureição traz como elemento intrínseco
a libertação do domínio e poderio do pecado sobre o pecador. Essa liberdade
retira todo processo de culpa como efeitos práticos da condenação divina como
também medo da morte. Como esse poder de vida é gerado pelo Espírito? Bem, esse
poder de vida é gerado na atuação do Espírito selando com o carimbo do
pertencimento aqueles que em fé respondem ao chamado eficaz da Palavra: “13
Nele também vocês, depois que ouviram a palavra da verdade, o evangelho da
salvação, tendo nele também crido, receberam o selo do Espírito Santo da
promessa. 14 O Espírito é o penhor da nossa herança, até o resgate da sua
propriedade, em louvor da sua glória.” (Ef 1.13-14). Tratando dessa
liberdade propiciada pelo Espírito na dotação de vida, que em outros lugares
pode ser chamada de novo nascimento ou regeneração Douglas J. Moo salienta:
Uma
libertação ocorreu por meio do Espírito Santo, e essa libertação é a base na
qual a pessoa em Cristo está para sempre salva da condenação. Ao descrevê-la,
Paulo usa a palavra nomos para caracterizar ambos os lados da situação (Moo
-2023). Isso se relaciona bem com a afirmação teológica de Paulo de que após a experimentação
dessa vida espiritual a capacidade e habilidade do homem para cumprir os
ditames da lei é restaurada e por meio da direção existencial do Espírito ele
consegue vivenciá-la de modo que cresça espiritualmente (Rm 8.4).
Espírito começa a desenvolver essa vida implantada em nós
(vs-6,26-27)
O
Espírito não fica preso apenas a estabelecer vida espiritual no homem convertido.
Ele amplia essa influência fazendo com que essa vida gere um nova perspectiva
mental (phrónêma) que conduz o regenerado a andar segundo os
princípios do Espírito, que é o equivalente a viver os valores (ethos) do
reino: “5 Os que vivem segundo a carne têm a mente voltada para as
vontades da natureza carnal, entretanto, os que vivem de acordo com o Espírito,
têm a mente orientada para satisfazer o que o Espírito deseja. 6 A mentalidade
da carne é morta, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz.” (Rm 8.5-6).
Pensando
sobre isso declarou Tim Keller:
Como
vencemos o pecado com o Espírito? Ou, em outras palavras, como vivemos
"... segundo o Espírito...” (8.5), do modo que nosso homem interior
realmente deseja (7.22)? As pessoas que fazem isso são aquelas que "...
pensam [...] nas coisas do Espírito” (8.5). Paulo diz que a conexão entre viver
e pensar é estreita (Keller – 2017).
Essa
nova mentalidade dirigida existencialmente pelo Espírito é a forma que ele
utiliza para produzir transformação matricial e existencialmente significativa
à medida que elas têm como referência Cristo em sua glória ressurreta: “17
O Senhor é o Espírito; e onde quer que o Espírito esteja, ali há liberdade. 18
Mas todos nós, que com a face descoberta contemplamos, como por meio de um
material espelhado, a glória do Senhor, conforme a sua imagem estamos sendo
transformados com glória crescente, na mesma imagem que vem do Senhor, que é o
Espírito” (2 Co 3.17-18). Comentando esse versículo de modo invulgar enfatizou
Hernandes Dias Lopes:
Esse
versículo é o ponto culminante do capítulo. Na velha aliança, colhemos escravidão,
morte e condenação, mas na nova aliança somos convertidos, libertos e
transformados progressivamente na imagem de Cristo. O véu é retirado do coração
não apenas no ato da conversão, mas o processo da santificação é um contínuo
remover de máscaras (Lopes – 2008).
O
Espírito ainda nesse afã de desenvolver essa vida espiritual nos discípulos age
de maneira que intervenha em um dos meios de graça mais fundamentais para o
crescimento e a maturidade redimida, como inclusive na própria estrutura da
adoração, estou me referindo a oração. Segunda a mente inspirada de Paulo nós
não sabemos orar de forma eficiente. O problema está em nossa limitação, que
ele vai chamar de fraqueza (astheneíais) por conta disso, oramos
muitas vezes de forma desconectada com o propósito divino, portanto, de forma
ineficaz: “26 Do mesmo modo, o Espírito nos auxilia em nossa fraqueza;
porque não sabemos como orar, no entanto, o próprio Espírito intercede por nós
com gemidos impossíveis de serem expressos por meio de palavras” (Rm
8.26). O Espírito entra nessa equação corrigindo essa deficiência nossa por
meio de sua intercessão corrigindo as debilidades de nossas orações: “27
E aquele que sonda os corações conhece perfeitamente qual é a intenção do
Espírito; porquanto, o Espírito suplica pelos santos em conformidade com a
vontade de Deus” (Rm 8.27). Escrevendo sobre essa tarefa intercessora
indispensável, fundamental do Espírito Santo em favor de nossas orações afirmou
Augustus Nicodemus Lopes:
O
que é interceder? É pedir algo a alguém em favor de outra pessoa; é isso que o
Espírito Santo faz diante de Deus Pai, ele pede a Deus Pai em nosso favor. E
faz isso por causa da fraqueza em que nos encontramos, “o Espírito nos socorre
na fraqueza” (8.26). Perceba que “fraqueza” está no singular, pois ele não está
dizendo que o Espírito nos socorre “nas fraquezas”, ou seja, nas enfermidades
ou em todas as demais fragilidades que nos são próprias. No contexto do que
Paulo está dizendo, fraqueza é o estado em que vivemos neste mundo, o qual ele
acabou de descrever nos versículos anteriores (Lopes -2020).
Portanto,
por intermédio dessa obra maravilhosa de intercessão o Parácletos ajusta nossa
oração permitindo que através dela nos ajustemos aos projetos divinos e como
plus ela se torna uma arma e guerra (Ef 6.18).
Levando a santificação ao seu apogeu no fenômeno chamado
glorificação (v-30)
Aqui o
trabalho eficaz do Espírito chega a seu ponto de finalização. O Espírito
trabalha a maturidade dessa vida espiritual até o momento em que ela chega na
sua crisálida deixando que voe a gloriosa borboleta do corpo ressurreto: “30
E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes
igualmente justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou” (Rm
8.30). Nossa
jornada não terminará com o corpo surrado pela doença, enrugado pelo peso dos
anos, coberto de pó na sepultura, mas receberemos um corpo de glória,
semelhante ao de Cristo: “20 Pois a nossa pátria está nos céus, de onde
também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, 21 o qual transformará o
nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a
eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas.”
(Fp 3.20-21).
Dessa
forma, a
exultação que está reservada para o desfecho final, é prevista por Paulo neste
momento. Ele vai descortinando essa verdade final nesse texto em vários
momentos como, a revelação da glória dos filhos de Deus (8.18,19), a
emancipação da glória dos filhos de Deus (8.21), a redenção do nosso corpo
(8.23). Sobre essa glorificação comentou David Martyn Loyd-Jones: A
glorificação é o fim supremo e o alvo final da salvação; e jamais devemos ficar
aquém disso. Nunca devemos pensar em nossa posição cristã como a de meramente
perdoados. Esse é apenas o começo dela, não é o fim. O fim é a glorificação (LIoyd-Jones
– 2002).
Quando ocorrerá essa glorificação. Podemos
responder que esses eventos se concretizarão com a chegada gloriosa de Cristo
Jesus, marcando o encerramento dessa era conhecida por nós. Esse advento
incluirá o julgamento dos ímpios e a salvação de seu povo; os vivos passarão
por uma transformação, e os falecidos em Cristo ressuscitarão com um corpo
semelhante ao de Cristo (1Co 15.50-53). Nesse ponto, o plano de redenção estará
integralmente realizado, e essa consumação é o que entendemos por glorificação
(edóksasen) — um desfecho que ainda está por vir. Pense nisto. SDG.
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