Houve um
momento em que a igreja era simplesmente conhecida pelos, os do caminho (At
9.2; 16.17; 18.26;19.23;22.4; 24.14,22; 2 Pe 2.2). O termo indica um novo
caminho da redenção em Deus inaugurado pelo messias, Jesus. Um dos textos que
deixam bem elucidado essa verdade é onde Priscila e Áquila expõe (a ideia do
termo: ekséthento era fazer uma exposição mais profunda, uma
elucidação aprofundada) o Caminho para Apolo, ali eles esclarecem esse Caminho como
um caminho para Deus: “24 Enquanto isso, chegou a Éfeso vindo de
Alexandria, no Egito, um judeu chamado Apolo. Era um orador eloquente que
conhecia bem as Escrituras. 25 Tinha sido instruído no caminho do Senhor e
ensinava a respeito de Jesus com profundo entusiasmo93 e exatidão, embora só
conhecesse o batismo de João. 26 Quando o ouviram falar corajosamente na
sinagoga, Priscila e Áquila o chamaram de lado e lhe explicaram com mais
exatidão o caminho de Deus.” (At 18.26). Esse era o motif
(tema) do kerigma primitivo, no seu desabrochar. Os do caminhos eram aqueles
que estavam expondo um nova forma de se relacionar e experimentar a redenção, os
poderes da era redimida (olam habá) através do compromisso existencial integral
com Cristo. Não é, pois, sem motivo que nessa jornada esse termo se diferencie
e se personalize mais para o personagem central de novo Caminho, Jesus (At 11.26;
1 Pe 4.16) claro que pode ter sido uma espécie de escárnio por parte dos
adversário, mas o que importa é que os discípulos (talmidim)
entenderam que o termo definia bem a percepção que eles tinham de Jesus e sua
obra e se encaixava em sua missão e no que eles proclamavam, ou seja, a
comunidade possuía naquele momento histórico uma identidade própria que os
distinguia do judaísmo, independentemente do rótulo que tentavam lhes impor. Então,
cristão se tornou um nome para os seguidores de Cristo.
Entretanto,
só isso não e enuncia completamente porque eles se entendiam e percebiam
cristãos, porque esse termo fazia tanto sentido para a igreja em seus primórdios.
Penso, então que a própria revelação pode nos fornecer mais elementos
elucidativos para o fato de porque se era cristãos.
Primeiro
ser cristão era reconhecer o papel absoluto de Jesus no pacto da redenção. Os
discípulos de compreendiam cristão porque eles uma forte compreensão do
significado redentor de Jesus. O seu papel dentro da aliança ou melhor nova
aliança. Os evangelistas enunciam isso de forma admirável. Mateus deixa clara
de que desde seu nascimento, Jesus era o salvador do seu povo, a encarnação divina
profetizada (láos): “21 Ela terá um filho, e você lhe dará
o nome de Jesus,8 pois ele salvará seu povo dos seus pecados”. 22 Tudo isso
aconteceu para cumprir o que o Senhor tinha dito por meio do profeta: 23 “Vejam!
A virgem ficará grávida! Ela dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel, que
significa ‘Deus conosco” (Mt 1.22-23). Respondendo à pergunta por que o
Filho de Deus tem esse nome. O catecismo de Heidelberg afirmou: Porque Ele
nos salva de todos os nossos pecados e porque, em ninguém mais, devemos buscar
ou podemos encontrar salvação (Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg, São
Paulo - SP, Cultura Cristã, 2011). Era assim que os cristão primitivos entendiam
a sua relação com Jesus, dentro desse âmbito de significado, por isso eles se
autoproclamavam aqueles que possuíam Jesus como o centro de suas existências.
Dois grandes teólogos deixam isso bem nítido. O primeiro é Joel Beeke: Cristo
nos chama à submissão e à educação espiritual: "Tomai sobre vós o meu jugo
e aprendei de mim" (Mt 11:29). Seus ensinamentos são a rocha sobre a qual
devemos construir nossas vidas (7:24). De fato, o próprio Cristo é o fundamento
de todo conhecimento e vida espiritual (Beeke, Smalley – 2019). O segundo é
Michael Horton: Todos os propósitos pactuais de Deus convergem em Jesus
Cristo. O Filho é o Mediador eterno da aliança da redenção que, já na
eternidade, tornou-o, por antecipação, aquele que seria encarnado e daria a sua
vida pelo seu povo (Horton – 2016).
Em
segundo lugar ser cristão era ter Jesus como o dono completo de cada centímetro
de sua vida. Quando se automanifestavam em suas proclamações como cristãos os discípulos
estavam dizendo que eles pertenciam a Jesus, que tudo que dizia respeito a eles
Jesus era o dono, o Senhor (kyrios). Essa convicção radical, era
proveniente da atuação interior do Espírito que esculpia essa verdade do
pertencimento em suas almas, por meio do seu selo: “13 Nele também vocês,
depois que ouviram a palavra da verdade, o evangelho da salvação, tendo nele
também crido, receberam o selo do Espírito Santo da promessa. 14 O Espírito é o
penhor da nossa herança, até o resgate da sua propriedade, em louvor da sua
glória.” (Ef 1.13-14). Aqui fica explícito o sentido profundo, do
termo cristão. Ele representava o compromisso com o senhorio de Cristo. Dito de
outra forma, os cristãos primitivos, ser chamado de cristão era ser reconhecido
como alguém que tinha a Jesus como Senhor e isso apontava profundos
significados teológicos e confessionais. Na verdade, essa prática reflete a
compreensão da divindade de Jesus e a aceitação de sua autoridade sobre a vida
dos crentes até o final: “10 para que ao Nome de Jesus se dobre todo
joelho, dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 e toda a língua
confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fp
2.10-11). Segundo John MacArthur Jr: Fica bem claro que na pregação da
igreja primitiva o senhorio de Cristo era o ponto central da mensagem cristã
(MacArthur - 2015).
Portanto,
ser cristão envolve o lugar de Jesus como salvador e Senhor na vida dos
discípulos. Evidentemente esse dos título iram envolver vários processos: regeneração,
conversão, fé, enfim, mas todos eles são via que levam os seguidores de Jesus
reconhecerem público e adorativamente tanto sua salvação como resultados da
aliança redentiva como seu domínio concreto e efetivo em suas vidas. Qualificando-os
a serem vistos e denominados cristãos. SDG.
Rev. Marcus
King Barbosa
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